
- Atrasos em projetos da Gafisa já levaram clientes a acionar escritórios de advocacia.
- A incorporadora enfrenta questionamentos sobre saúde financeira e histórico de dívidas.
- No mercado, cresce a pressão sobre Tanure para recuperar a credibilidade da marca.
A Gafisa (GFSA3) voltou ao centro da polêmica. A incorporadora, controlada por Nelson Tanure, está atrasando a entrega de projetos em São Paulo e provocando uma onda de processos judiciais por parte de clientes frustrados.
No caso do Invert Campo Belo, empreendimento lançado em 2021 com VGV de R$ 295 milhões, os compradores afirmam que o prazo legal já venceu e que a empresa mantém o canteiro “esvaziado”. Outro projeto, o Flow, também acumula adiamentos.
Obras emperradas
Os contratos preveem um prazo de tolerância de 180 dias para entrega dos imóveis. Mas esse limite já passou em ambos os empreendimentos, o que dá direito a multa de 1% ao mês sobre o valor dos imóveis. No Invert Campo Belo, os clientes denunciam que a obra está parada em 86% de execução desde abril.
Um grupo contratou o escritório Viviane Amaral Advogados Associados, especializado em recuperação de empreendimentos, para notificar a SPE do projeto. A acusação é de que a Gafisa mantém poucos funcionários apenas para simular continuidade da obra. A entrega das chaves, prometida agora para abril de 2026, representaria quase dois anos de atraso.
Já no Flow, lançado em 2021 com VGV de R$ 134 milhões, o Habite-se deveria ter saído em julho de 2024. Desde então, o prazo foi adiado quatro vezes e a nova previsão é novembro de 2025.
Clientes recorrem aos tribunais
Os compradores ameaçam destituir a Gafisa da incorporação caso a obra do Invert Campo Belo não seja retomada em 30 dias. A medida é traumática e demorada, mas já está em discussão. Paralelamente, outros clientes afirmam que além da multa contratual, vão exigir lucros cessantes, danos morais e materiais.
No caso do Flow, há investidores que planejam ações por perdas em aluguel temporário. Já no Ibirapuera Park, entregue em 2025, moradores denunciam que a pressa para não estourar o prazo de tolerância deixou vícios de construção que agora geram processos.
“Estou deixando de faturar não só no aluguel, mas também com as diárias. É prejuízo duplo”, disse um comprador.
Pressão financeira no radar
Especialistas lembram que os atrasos não são exclusividade da Gafisa, mas no caso da empresa há agravantes. Para o advogado Marcelo Tapai, a incorporadora apresenta recorrentes dificuldades financeiras. “Já tivemos problemas até para executar ações vencidas, pois não se encontram bens da companhia”, alerta.
A incorporadora foi uma das mais afetadas pela crise imobiliária da década passada. Com histórico conturbado na gestão do empresário coreano Mu Hak You, a companhia foi reestruturada sob Tanure, mas continua cercada por desconfiança do mercado e clientes.
Segundo o último balanço, a Gafisa lucrou R$ 6,8 milhões no 2º trimestre e fez um follow-on de R$ 89 milhões para reforçar o caixa. Mesmo assim, investidores e clientes seguem atentos à capacidade da empresa de honrar prazos.