
- Déficits iguais colocam Brasil em trajetória de risco semelhante ao fim do governo Dilma
- Juros consomem quase R$ 1 trilhão e elevam déficit nominal a 7,12% do PIB
- Dívida bruta dispara a 77,5% do PIB, enquanto contas externas também afundam
O Brasil entrou oficialmente no cenário dos “déficits gêmeos”, com rombos simultâneos nas contas fiscais e externas. A situação ocorre a pouco mais de um ano das eleições de 2026, quando Lula deve buscar um quarto mandato.
Os dados do Banco Central mostram que o país gasta bem mais do que arrecada, enquanto o saldo externo também virou negativo. O quadro se assemelha ao período pré-crise de Dilma Rousseff, marcado por desequilíbrio, dívida em alta e perda de credibilidade.
O peso dos juros
A alta da taxa Selic a 15% disparou os custos para rolar a dívida pública. Essa despesa já consome quase R$ 1 trilhão em 12 meses, elevando o déficit nominal do governo central a 7,12% do PIB.
O problema não é pontual: União, estados e municípios juntos devem fechar o ano com rombo próximo de 8,5% do PIB. A maior parte desse resultado vem justamente dos juros.
Portanto, para economistas o Brasil repete a trajetória de países que gastam além da conta e acabam presos em um ciclo de dívida crescente e pouco espaço para investir.
Dívida em disparada
O impacto direto aparece na dívida bruta do governo geral, que já alcançou 77,5% do PIB em julho. Isso representa um salto de seis pontos em apenas dois anos e meio de Lula 3.
Poucos países emergentes se endividaram tanto em tão pouco tempo. Assim, o dado reforça a fragilidade do equilíbrio fiscal brasileiro.
Desse modo, a consequência é clara: mais pressão sobre juros e menos espaço para cortar a Selic, mesmo com sinais de desaceleração da economia.
Contas externas em deterioração
As transações correntes, que medem o saldo entre exportações, importações, serviços e remessas, também pioraram. O déficit saltou de 1,4% para 3,5% do PIB em um ano.
Além disso, parte desse movimento vem da balança comercial, que entregou resultados abaixo do esperado. Outro fator foi o aumento das remessas de lucros e dividendos para o exterior.
Portanto, com isso o país passa a registrar déficit duplo: interno, pelo rombo fiscal, e externo, pelo aumento das saídas líquidas em dólar.
Risco político e eleitoral
Especialistas alertam que o governo pode pisar no acelerador dos gastos em 2026 para turbinar a reeleição. O risco é agravar ainda mais os desequilíbrios.
Ademais, economistas como Samuel Pessôa e Armínio Fraga lembram que a situação lembra o fim do governo Dilma, embora sem maquiagem artificial da Selic.
Por fim, a preocupação central está no fiscal: sem superávits primários consistentes, a dívida seguirá em alta. O resultado é mais pressão sobre a inflação, juros elevados e risco de perda de credibilidade do Brasil.