
- Fundos brasileiros buscam crédito global para reduzir exposição ao risco doméstico
- Tensões comerciais de Trump e Selic elevada mudam o apetite por ativos locais
- Mercado externo oferece liquidez, diversidade e melhor relação risco-retorno
A combinação explosiva entre os juros altos no Brasil e a política tarifária de Donald Trump nos Estados Unidos tem levado as gestoras de fundos brasileiras a repensarem suas estratégias. Em vez de concentrar recursos no crédito privado local, como nos últimos anos, casas renomadas estão ampliando a exposição ao crédito internacional.
Essa mudança não é apenas uma busca por rentabilidade, mas sim uma necessidade de diversificação estratégica. Com o aumento da volatilidade interna e incertezas sobre o comércio global, o crédito estrangeiro passou a ser visto como uma ferramenta eficaz para preservar performance e equilibrar riscos.
Selic em alta e spreads pressionados
O retorno da taxa Selic ao patamar de 15% reacendeu o interesse pelo crédito local. Contudo, especialistas afirmam que o spread das debêntures brasileiras segue comprimido, o que limita o ganho real dos investidores. Ou seja, apesar dos juros elevados, o retorno ajustado ao risco perdeu força.
Enquanto isso, o mercado internacional oferece alternativas com maior atratividade. A elevação dos juros nos países desenvolvidos criou oportunidades para investidores acessarem retornos comparáveis aos da renda variável, mas com menor volatilidade. Isso atrai tanto gestoras conservadoras quanto aquelas com apetite mais agressivo.
Ademais, mesmo com custos de hedge e variação cambial, o crédito offshore se destaca. Segundo Rodrigo Aloi, da HMC Capital, manter quase 100% do patrimônio em ativos brasileiros já não faz sentido quando o Brasil representa menos de 2% do PIB global. Para ele, o risco maior é a concentração em ativos locais, não a exposição internacional.
A tendência, portanto, é clara: fundos que antes focavam no mercado interno agora usam a presença global como um eixo de equilíbrio para o portfólio, diluindo riscos específicos do Brasil.
Crédito global ganha tração
Após dois anos de valorização, o crédito privado no exterior continua atraente. A liquidez, profundidade dos mercados e variedade de emissores fazem com que esse segmento se destaque em momentos de incerteza. Mesmo com spreads mais baixos, o retorno total continua competitivo.
Além disso, segundo Luiz Christ, da Principal Asset, a amplitude do mercado global amplia as chances de capturar distorções de preço. Isso permite uma gestão mais ativa e refinada. Ele afirma que setores como telecomunicações e infraestrutura têm oferecido os melhores retornos ajustados ao risco.
Outro atrativo está na baixa correlação desses ativos com o mercado local. Isso significa que, mesmo em cenários de instabilidade no Brasil, os papéis globais ajudam a preservar o desempenho geral da carteira. Para os gestores, isso é um fator decisivo na hora de realocar recursos.
Com isso, o investidor também acessa setores ausentes no Brasil. Essa exposição setorial e geográfica, segundo os especialistas, é essencial para uma alocação eficiente de longo prazo.
CLOs ganham espaço entre fundos brasileiros
Entre os ativos que mais despertam interesse no momento estão os CLOs (Collateralized Loan Obligations). Esses títulos estruturados funcionam de forma parecida com os FIDCs no Brasil, mas com maior escala e liquidez. Eles oferecem retornos superiores aos bonds high yield, com proteção adicional via subordinação.
Além disso, esses instrumentos permitem acesso a empresas com Ebitda acima de US$ 600 milhões, o que reduz o risco de inadimplência. Gestoras como a HMC e a Principal já intensificaram posições nesses papéis, especialmente em mercados maduros como Estados Unidos e Europa.
Ademais, para Aloi, da HMC, o maior erro hoje seria apostar demais em uma única classe ou região. A diversificação entre ativos, geografias e estratégias é o que garante um portfólio resiliente, mesmo em momentos de stress.
Por fim, mesmo com volatilidade maior no exterior, os gestores acreditam que a relação risco-retorno do crédito global ainda supera as opções disponíveis no Brasil.