
- Brasil concedeu asilo a Nadine Heredia, ex-primeira-dama do Peru, condenada por lavagem de dinheiro.
- O gesto gerou forte reação do governo peruano e agravou tensões diplomáticas regionais.
- O caso levanta questionamentos sobre o uso político do judiciário e o papel do Brasil em abrigar figuras controversas.
O Brasil concedeu asilo à ex-primeira-dama do Peru, Nadine Heredia, após alegar perseguição política. Heredia, condenada por lavagem de dinheiro, chegou ao Brasil nesta quarta-feira (16) após passar semanas na embaixada brasileira em Lima. A decisão gerou reações diplomáticas intensas, especialmente no Peru.
Pedido de asilo e chegada ao Brasil
Condenada em 2023 a 15 anos de prisão por lavagem de dinheiro, Nadine Heredia, ex-primeira-dama do Peru, buscou refúgio político no Brasil. O caso está vinculado a esquemas ilegais de financiamento de campanha envolvendo o partido de seu marido, o ex-presidente Ollanta Humala. Em fevereiro de 2025, ela entrou na embaixada brasileira em Lima, alegando perseguição política e risco à sua integridade.
Diante do pedido, o governo brasileiro acionou os protocolos previstos na Convenção de Caracas de 1954. O tratado permite que países concedam asilo a pessoas perseguidas por crimes políticos, mesmo que estejam condenadas judicialmente. Após semanas de análises e negociações discretas, os negociadores apresentaram a solicitação, e as autoridades peruanas a aprovaram..
Assim, a chegada de Heredia ao Brasil ocorreu na manhã desta quarta-feira (16), com forte esquema de segurança. O Itamaraty afirmou que seguiu normas internacionais durante o processo, rejeitou qualquer possibilidade de extradição e garantiu que preservaria a integridade física e os direitos políticos da solicitante em território nacional.
A medida provocou reações imediatas na comunidade diplomática sul-americana, especialmente no Peru. Mesmo assim, o governo brasileiro manteve sua posição, reiterando o compromisso com tratados internacionais e o respeito aos direitos humanos.
Reações no Peru e protestos diplomáticos
As autoridades peruanas reagiram com veemência à decisão brasileira. O Ministério das Relações Exteriores do Peru divulgou uma nota oficial repudiando o ato, classificando-o como uma ingerência indevida nos assuntos internos do país. Segundo o governo de Dina Boluarte, o Brasil ignorou a seriedade das condenações judiciais.
Além disso, a Suprema Corte peruana se manifestou reafirmando a legalidade do processo contra Heredia. Juízes do caso apontaram que não houve qualquer vício jurídico ou motivação política na condenação, o que, para Lima, deslegitima a concessão de asilo. A Procuradoria também declarou que manterá os trâmites legais junto à Interpol.
Parlamentares opositores em Lima aumentaram a pressão sobre o Palácio Pizarro, exigindo retaliações diplomáticas. Alguns setores chegaram a sugerir o rompimento de cooperações bilaterais em andamento. No entanto, diplomatas mais experientes defendem o diálogo, visando conter uma escalada regional.
Ainda assim, o episódio revela um enfraquecimento nas relações Brasil-Peru, que vinham se aproximando nos últimos anos. Com isso, cresce o receio de um impacto mais amplo na integração política e econômica da América do Sul.
O impacto político da decisão brasileira
Internamente, diversos setores começaram a questionar o governo brasileiro. Especialistas em relações internacionais interpretam a concessão de asilo como uma sinalização política do atual governo em apoio a figuras de esquerda da América Latina. Essa percepção ganhou força nos bastidores do Congresso Nacional.
Ademais, a oposição criticou a medida, argumentando que ela compromete a imagem do Brasil como mediador neutro. Para senadores da base governista, contudo, a decisão foi coerente com a política externa brasileira, centrada na defesa de direitos civis e liberdades democráticas.
Nesse contexto, analistas políticos apontam que o episódio pode ser explorado eleitoralmente tanto no Brasil quanto no Peru. Heredia, por sua vez, declarou que buscará a formalização de seu status de refugiada. Com isso, ela pretende garantir a permanência legal no país e evitar qualquer tentativa futura de repatriação.
Embora o caso de Heredia não seja inédito, ele destaca uma crescente judicialização da política na região. Casos similares, como o de Evo Morales na Bolívia, ajudam a traçar um padrão de disputas políticas convertidas em batalhas diplomáticas entre vizinhos sul-americanos.
Consequências regionais e próximos passos
O caso Heredia poderá se tornar um divisor de águas para a política externa brasileira. O desafio, agora, será preservar os laços com o Peru sem recuar na decisão tomada. Para isso, o Itamaraty prepara um comunicado oficial mais detalhado, explicando os fundamentos jurídicos da medida.
Além disso, o Brasil terá que lidar com possíveis sanções informais ou bloqueios diplomáticos do governo peruano. A suspensão de visitas oficiais, congelamento de acordos e declínio na cooperação fronteiriça são cenários possíveis nos próximos meses. A Organização dos Estados Americanos (OEA) poderá ser acionada para mediar o impasse.
No plano interno, entidades de direitos humanos demonstraram apoio à concessão de asilo. Segundo elas, o Brasil demonstrou compromisso com tratados internacionais e valores democráticos. Já setores mais conservadores alertam para o risco de o país se tornar destino preferencial de figuras políticas condenadas.
Enquanto isso, Heredia permanece sob proteção do Estado brasileiro. Seu processo de refúgio será analisado nos próximos dias pelo Comitê Nacional para os Refugiados (Conare). Desse modo, caso aprovado, ela receberá documentação para residir no país legalmente, com direito a trabalho e liberdade de locomoção.