O governo federal deve encaminhar até o fim desta segunda-feira (2) ao Congresso Nacional uma Proposta de Emenda à Constituição (PEC) com medidas fiscais que visam promover cortes de gastos e reestruturação de recursos públicos. A confirmação foi feita pelo ministro da Casa Civil, Rui Costa, durante sua visita às obras da fábrica da montadora BYD em Camaçari, na Bahia. A PEC, que integra um pacote mais amplo de austeridade, traz ajustes significativos em diversas áreas do orçamento federal.
Entre as principais mudanças propostas pela PEC, estão alterações nas regras do abono salarial, no Fundeb (Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização dos Profissionais da Educação), no Fundo Constitucional do Distrito Federal (FCDF), além de ajustes em subsídios e subvenções do governo federal. A medida também prorroga até 2032 a Desvinculação das Receitas da União (DRU), mecanismo que permite ao governo federal utilizar livremente parte das receitas que, normalmente, são vinculadas a áreas específicas, como saúde e educação.
Em um contexto de busca por ajustes fiscais, o governo também enviou ao Congresso, na última sexta-feira (29), um projeto de lei (PL) e um projeto de lei complementar (PLP) com o objetivo de complementar o pacote de corte de gastos. Essas propostas estão alinhadas à estratégia do Executivo de promover uma maior flexibilidade orçamentária e aumentar a eficiência da administração pública.
Propostas de mudança e impactos esperados
A proposta de alteração no abono salarial, um benefício pago aos trabalhadores com renda baixa, busca revisar as condições de acesso e o valor pago. Embora o governo não tenha divulgado detalhes completos sobre os novos critérios, especialistas indicam que isso pode afetar diretamente milhares de brasileiros que dependem desse benefício para complementar sua renda mensal.
No caso do Fundeb, a mudança se dá em um momento delicado para a educação pública no Brasil. O fundo, que financia a educação básica em todo o país, deve ter suas regras alteradas, o que pode impactar a distribuição de recursos entre os estados e municípios. De acordo com o Ministério da Educação, o Fundeb já sofreu diversas modificações nos últimos anos, mas a proposta atual visa equilibrar a distribuição de verbas, levando em conta as necessidades educacionais de cada região.
O Fundo Constitucional do Distrito Federal (FCDF), utilizado para garantir a segurança pública e outras áreas essenciais do DF, também sofrerá ajustes, mas ainda não foram detalhados os impactos diretos dessa alteração. A prorrogação da DRU é uma das propostas mais polêmicas, pois aumenta o poder de manobra do governo federal em relação a recursos que, tradicionalmente, são destinados a setores essenciais como saúde e educação.
Reações e expectativas no congresso
A expectativa em torno da PEC e dos projetos de lei que acompanham a proposta de austeridade fiscal é grande. Para alguns analistas, a flexibilização das regras fiscais pode abrir caminho para uma recuperação econômica mais ágil, uma vez que permitiria ao governo federal utilizar mais recursos em áreas prioritárias, como investimentos em infraestrutura. Por outro lado, a oposição no Congresso já sinalizou resistência a diversas medidas propostas.
Em entrevista, o senador Alexandre Silveira (PSD-MG) afirmou que “qualquer proposta que envolva corte de gastos deve ser analisada com muito cuidado, especialmente se isso impactar áreas sociais essenciais como saúde e educação”. Silveira também destacou que a prorrogação da DRU até 2032 será um ponto de intenso debate, já que “isso significaria uma diminuição da transparência e da accountability sobre como o dinheiro público é gasto”.
Contexto e desafios Fiscais
O governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva enfrenta uma situação fiscal desafiadora. Em 2023, o Brasil registrou um déficit fiscal de R$ 160 bilhões, e a expectativa para 2024 é de que o cenário fiscal continue apertado, com a necessidade de ajustes nas contas públicas para alcançar a meta de superávit primário estabelecida pela Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO).
A proposta de austeridade fiscal é vista como uma tentativa de restaurar o equilíbrio fiscal do país, diante de um crescente aumento na dívida pública e da pressão para garantir o cumprimento das metas fiscais. No entanto, a execução dessas reformas dependerá da aprovação no Congresso, onde o governo terá que enfrentar a resistência de setores que defendem mais investimentos em áreas sociais.