Inflação pressionada

Governo Lula muda estratégia e transfere culpa pela alta dos juros

Nova abordagem busca responsabilizar gestão anterior do Banco Central, enquanto política econômica segue pressionando a inflação.

Governo Lula muda estratégia e transfere culpa pela alta dos juros
  • A abordagem representa um novo tom dentro do governo petista, que, desde o início do mandato, criticava a política monetária, mas sem personalizar a questão
  • Fernando Haddad, diz que tudo isso seria uma “herança” da gestão de Campos Neto
  • O aumento dos juros ocorre como resposta a um cenário de inflação elevada

O governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva adotou uma nova estratégia de comunicação para lidar com os impactos da política econômica.

A principal mudança está na tentativa de atribuir à gestão anterior do Banco Central (BC), sob comando de Roberto Campos Neto, a responsabilidade pelo atual patamar da taxa Selic, que foi elevada pelo Comitê de Política Monetária (Copom) para 14,25% ao ano.

Segundo o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, essa seria uma “herança” da gestão de Campos Neto. Contudo, que agora deve ser “administrada” por Gabriel Galípolo e pela nova diretoria do BC, formada em sua maioria por indicados do atual governo.

A abordagem representa um novo tom dentro do governo petista, que, desde o início do mandato, criticava a política monetária, mas sem personalizar a questão. Agora, a narrativa se direciona a Campos Neto, buscando deslocar a culpa para sua gestão e desviar o foco das decisões do próprio governo que têm impactado a economia.

Gastos públicos e inflação em alta

No entanto, a realidade econômica vai além da atuação do Banco Central. O aumento dos juros ocorre como resposta a um cenário de inflação elevada, impulsionada por um excesso de gastos públicos que vem aquecendo a economia acima da capacidade produtiva do país.

A expansão do crédito e das despesas governamentais impulsionou um crescimento econômico artificial, resultando em maior pressão sobre os preços.

Outro fator que pesou na decisão do Copom foi a escalada do dólar, que atingiu R$ 6,30. A desvalorização cambial tem impacto direto sobre a inflação ao encarecer produtos importados e matérias-primas. Isto, além de aumentar o custo da dívida pública.

A busca do governo por popularidade, apostando em mais estímulos à economia via aumento dos gastos, contribuiu para esse cenário. E, paradoxalmente, acabou corroendo a própria popularidade de Lula, diante da alta generalizada dos preços.

Contradições na comunicação

A mudança no discurso oficial ficou evidente após a última decisão do Copom. Em janeiro, Haddad havia criticado a taxa de juros elevada, alegando que a “dose” para conter a inflação estava excessiva.

O ministro, inclusive, reconheceu que a atividade econômica deveria desacelerar para ajudar na redução dos preços. Mas agora, diante do novo aumento da Selic, passou a enfatizar a “herança” deixada por Campos Neto.

Antes, o papel de criticar a gestão anterior do BC ficava a cargo de figuras como a presidente do PT, Gleisi Hoffmann, e do próprio presidente Lula. No entanto, que frequentemente atacavam Campos Neto.

A nova estratégia reduziu esses ataques e direcionou o foco para a suposta falta de alternativas da nova diretoria do BC diante das decisões passadas.

Recusa em assumir responsabilidades

A postura do governo atual se assemelha à narrativa adotada no passado pelo PT, quando se recusou a reconhecer os efeitos negativos da gestão Dilma Rousseff sobre a economia. Agora, a mesma estratégia se repete ao negar que as políticas adotadas por Lula e Haddad tenham relação direta com o aumento da inflação e da dívida pública.

Enquanto isso, o Banco Central segue pressionado a conter os efeitos da política fiscal expansionista. Enquanto a inflação continua corroendo o poder de compra da população.

Com a economia ainda fragilizada e as incertezas sobre os próximos passos do governo, o embate entre Planalto e BC promete se manter no centro das discussões econômicas nos próximos meses.

Rocha Schwartz
Paola Rocha Schwartz
Estudante de Jornalismo, apaixonada por redação e escrita! Tenho experiência na área educacional (alfabetização e letramento) e na área comercial/administrativ