O governo federal, por meio da Empresa Brasileira de Participações em Energia Nuclear e Binacional (ENBPar), propôs ao Ministério de Minas e Energia a alteração do Decreto nº 11.027/2022 para permitir o uso de recursos da Conta de Recomposição de Recursos a fim de cobrir um rombo de R$ 333 milhões na Conta de Comercialização de Energia Elétrica de Itaipu até o final de 2024. A medida foi encaminhada após uma revisão da estimativa inicial de déficit de R$ 700 milhões para o valor mais ajustado, mas ainda assim significativo.
O valor do rombo se deve principalmente à combinação da escassez hidrológica, que reduziu a geração de energia, e ao congelamento da Tarifa de Repasse para Distribuidoras Cotistas, conforme um compromisso firmado entre o ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira (PSD), e o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). A medida visava evitar que o aumento da tarifa de Itaipu, decidido em Assunção, no Paraguai, em abril de 2024, impactasse os consumidores brasileiros.
Porém, a proposta de alteração no decreto abre a possibilidade de uma elevação nos custos para o consumidor brasileiro, dado que parte do rombo pode ser coberta com recursos do “bônus de Itaipu” – um benefício que devolve aos consumidores de baixa renda (com consumo inferior a 350 kWh mensais) os valores arrecadados de forma excessiva. O bônus, estimado para alcançar mais de 78 milhões de brasileiros em janeiro de 2025, pode ser ajustado para cobrir a diferença, o que resultaria em um aumento da conta de luz para os consumidores.
O déficit também está relacionado a uma projeção de geração da ENBPar para 2024, que inicialmente era de 88,9 milhões de megawatt-hora (MWh), mas que, até o momento, foi corrigida para 67 milhões de MWh. A Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) notificou que o MME e a ENBPar têm 45 dias para implementar medidas que viabilizem a manutenção da tarifa de repasse sem que haja custos adicionais para os consumidores.
“Ou mudamos o decreto e jogamos o rombo para os consumidores mais pobres, ou aumentamos a tarifa para as regiões Sul, Sudeste e Centro-Oeste, ou cortamos recursos dos projetos socioambientais patrocinados por Itaipu”, analisou Jerson Kelman, ex-diretor da Aneel, em reportagem publicada pelo jornal Valor Econômico, onde destacou os dilemas enfrentados pela gestão federal. A proposta coloca em risco os benefícios de baixo custo e gera incertezas quanto ao impacto nas tarifas de energia elétrica, especialmente para a população de menor renda.