
- Mercado instável: dólar passa de R$ 5,70 em meio à incerteza sobre o IOF.
- Pressão crescente: bancos e Congresso exigem recuo, alertando para impacto no crédito.
- Governo dividido: Fazenda analisa alternativas, mas tenta manter meta fiscal intacta.
Após forte pressão do setor financeiro e de parlamentares, o Ministério da Fazenda decidiu reavaliar o aumento no Imposto sobre Operações Financeiras (IOF). A medida, anunciada para arrecadar R$ 20 bilhões, gerou turbulência no mercado e reacendeu o debate sobre os limites da carga tributária no país.
Bancos alertam e dólar dispara
O dólar ultrapassou R$ 5,70 nesta quarta-feira (28), refletindo o receio de investidores sobre os efeitos do aumento do IOF. A insegurança cresceu depois que o secretário-executivo da Fazenda, Dario Durigan, sinalizou abertura para revisar a medida. Segundo ele, a equipe econômica examina sugestões apresentadas por bancos e técnicos do ministério.
Nesse sentido, a declaração veio após uma reunião com os presidentes dos maiores bancos privados do país. Assim, Itaú, Bradesco, Santander e BTG Pactual enviaram seus dirigentes à capital federal. Desse modo, o encontro, promovido pelo ministro Fernando Haddad, teve como objetivo conter a insatisfação com o impacto do novo imposto.
Em suma, Durigan afirmou que o governo está disposto a encontrar uma solução equilibrada. Portanto, para ele, é possível preservar o ajuste fiscal e, ao mesmo tempo, reduzir os efeitos nocivos sobre o crédito.
Setor financeiro pede equilíbrio sem mais impostos
Durante a reunião, a Federação Brasileira de Bancos (Febraban) apresentou cálculos preocupantes. De acordo com a entidade, o custo do crédito de curto prazo pode saltar de 14,5% para até 40% ao ano. Assim, essa alta atingiria principalmente micro, pequenas e médias empresas.
Nesse sentido, Sidney Oliveira, presidente da Febraban, defendeu um caminho alternativo para equilibrar as contas públicas. Embora reconheça a necessidade de responsabilidade fiscal, ele rejeita o aumento de tributos regulatórios. “Há outras formas de reforçar a arrecadação sem penalizar o crédito produtivo”, argumentou.
Portanto, a Febraban entregou propostas de corte de gastos e novas fontes de receita. Desse modo, a Fazenda prometeu avaliar tecnicamente as sugestões nos próximos dias.
Congresso reage e governo tenta conter desgaste
Desde a publicação do decreto, parlamentares apresentaram mais de 20 projetos para derrubar o aumento do IOF. A resposta surpreendeu o governo e gerou preocupação sobre o impacto fiscal. Sem o imposto, o bloqueio orçamentário teria de crescer além dos R$ 31,3 bilhões já anunciados.
Na tentativa de evitar derrotas no Congresso, o senador Jaques Wagner (PT-BA), líder do governo, iniciou articulações para uma reunião entre Haddad e parlamentares. O objetivo é conter o avanço das propostas e preservar o plano de ajuste.
A Fazenda já recuou parcialmente. Na semana passada, suspendeu a cobrança do IOF sobre investimentos no exterior. Agora, avalia mudanças também nas operações de crédito, embora evite comprometer a meta fiscal.
Caminho estreito entre política e economia
A nova arrecadação ainda não foi recalculada, e o governo corre contra o tempo. Se o Congresso derrubar o decreto ou se houver novo recuo, será necessário buscar recursos em outro lugar. Por isso, a equipe econômica busca alternativas que envolvam cortes de gastos ou novas medidas compensatórias.
Nesse sentido, Haddad enfrenta um dilema. De um lado, precisa garantir os R$ 20 bilhões para evitar um rombo no Orçamento. De outro, não pode desagradar aliados e setores produtivos em um ano politicamente sensível. O desafio exige articulação fina e respostas rápidas.
Enquanto isso, o mercado reage a cada sinal de instabilidade. Para os bancos, a urgência do recuo é clara. Para o governo, o risco de fragilidade fiscal e perda de credibilidade continua elevado.