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Guerra: quais setores da bolsa são os mais impactados?

Nesta terça (10), ações da Petrobras (PETR4) renovaram seus ganhos e bateram a máxima histórica fechando com alta de 0,74%, indo aos R$ 35,21. Já a cotação do petróleo caiu cerca de 0,60%, após ter avançado 4% na segunda-feira. Mesmo com o leve recuo, o mercado segue apreensivo com as consequências da guerra entre Israel e Hamas. 

Foto/Reprodução GDI
Foto/Reprodução GDI

Nesta terça (10), ações da Petrobras (PETR4) renovaram seus ganhos e bateram a máxima histórica fechando com alta de 0,74%, indo aos R$ 35,21. Já a cotação do petróleo caiu cerca de 0,60%, após ter avançado 4% na segunda-feira. Mesmo com o leve recuo, o mercado segue apreensivo com as consequências da guerra entre Israel e Hamas. 

Rodrigo Cohen, analista e co-fundador da Escola de Investimentos, analisando o gráfico diário de Petrobras, afirma que é possível observar que o papel fez fundo, em julho, na casa dos R$ 26,97. E, desde então, a ação vem subindo em zigue-zague de topos e fundos ascendentes, em um movimento de tendência de alta.

“A Petrobras está em tendência de alta bem forte e agora, em virtude da guerra e com o petróleo lá em cima, minha expectativa é de que o papel possa bater em pelo menos nos R$ 37,50 a R$ 38,00, nos próximos dias, caso o petróleo siga subindo. Estamos falando em um upside em torno de 8,5%”, explica Rodrigo Cohen, analista de investimentos e co-fundador da Escola de Investimentos.

Para o economista-chefe do FMI – FMI – Fundo Monetário Internacional, Pierre Olivier Gourinchas, é possível que os preços do petróleo subam 10%, o que pode reduzir o crescimento do PIB global em 0,15% e aumentar a inflação em 0,4%. Além disso, o FMI projeta que o crescimento da economia mundial em 2023 deve ser de 3%, um ritmo mais lento do que no ano passado, quando o crescimento foi de 3,5%. Isso por conta do impacto dos juros mais altos, guerra entre Ucrânia e Rússia e novas incertezas com o conflito entre Israel e o Hamas. 

Cohen comenta que o contexto de incertezas e o receio que países como Síria e Irã entrem na guerra colaboram para que o preço da commodity suba. “Ações do setor de petróleo devem continuar subindo porque qualquer guerra no Oriente Médio pode trazer escassez de petróleo. Qualquer escassez de algum ativo faz com que o preço do ativo suba. Então a gente pode esperar pra frente uma guerra longa. O maior temor é em relação a entrada de outros países no conflito. E com isso, podemos ter muita volatilidade no mercado e dólar sem previsão de queda“, comenta.

Segundo Cohen, também é possível uma valorização do ouro, como ocorreu no primeiro dia útil após a declaração de guerra: “Veremos uma alta do ouro porque dólar e ouro são ativos que são seguros para o mundo. Bolsas devem sofrer com esse cenário de incertezas. E no Brasil, não é diferente“.

Elcio Cardozo, especialista em mercado de capitais e sócio da Matriz Capital, considera que ainda é cedo para se compreender efetivamente os efeitos da guerra, mas, diferentemente do que ocorreu entre Rússia e Ucrânia, ele destaca que esses conflitos na Faixa de Gaza perduram por muitas décadas e o que ocorreu, na verdade, foi uma retaliação muito forte do Hamas à Israel, o que fugiu da normalidade do conflito. “Acredito que o setor que mais poderá ser impactado, caso os conflitos escalem, é o de petróleo, que poderá se valorizar. Neste cenário, temos boas perspectivas para empresas do setor, sendo as principais Petrobrás, PetroRio e 3R Petroleum”, diz.

Leandro Petrokas, mestre em finanças e diretor de research da Quantzed, concorda que é possível esperar novas altas de empresas do setor do petróleo. “Em resumo, por conta de possíveis sanções e/ou corte de produção do petróleo do Irã. É possível que haja sanções ou cortes de produção, o que pode fazer com que o preço do petróleo salte ainda mais. Caso haja um conflito direto entre Irã e Israel a situação pode piorar com o petróleo disparando“, afirma.

Ainda de acordo com o Petrokas, é possível que essa alta da commodity cause aumento de combustíveis na ponta, para a população, inclusive no Brasil. “Esse aumento pode acontecer caso o preço do petróleo apresente uma valorização abrupta devido a um choque de oferta. Apesar de o mercado internacional conseguir controlar a produção (aumento ou redução, de acordo com interesses das grandes nações produtoras do óleo), regulando a oferta e demanda, caso o conflito no Oriente Médio tome proporções maiores, a produção poderá ser afetada, gerando uma menor oferta. Como a demanda é mais difícil de ser regulada, se houver um desequilíbrio muito grande entre oferta e demanda, o preço da commodity tende a apresentar uma valorização que geraria efeito em toda a cadeia de derivados (indústria plástica, combustível, etc)“, explica Petrokas.

Ele também vê impactos para o setor alimentício: “Um eventual aumento do petróleo e dos combustíveis pode gerar um aumento em cascata dos preços de diversos produtos, incluindo os alimentos. O modal rodoviário é o principal meio de transporte de carga no país e o combustível é um dos maiores custos do transporte. Como é muito difícil aumentar a oferta de alimentos em um curto espaço de tempo (há restrições de plantação, de transporte, de armazenagem de grãos e de produção industrial em geral), podemos ver um aumento significativo nos preços de alimentos, se o cenário de aumento do petróleo se concretizar e não houver mudanças na política de preço dos combustíveis“, argumenta.

Para o Ibovespa, a guerra também acaba proporcionando um impacto negativo, segundo Andre Fernandes, head de renda variável e sócio da A7 Capital. Para o especialista, inicialmente o primeiro impacto no Ibovespa é negativo, visto que um conflito desse porte acaba trazendo maiores incertezas no mercado como um todo. “Tudo isso porque não sabemos quais serão os reais impactos, se haverá outros participantes na guerra que possam causar maiores choques de oferta, principalmente nas commodities. Por enquanto, o impacto não foi tão forte no Ibovespa, que acabou seguindo a narrativa do FED, em que dirigentes deram a entender que o ciclo de alta de juros por lá pode ter terminado, e isso animou os mercados como um todo“, comenta.

Fernandes acredita que o Ibovespa pode sentir impactos ainda maiores em um eventual choque de oferta do petróleo, com o envolvimento do Irã na guerra, já que o país poderia bloquear o estreito de Ormuz, onde passa mais de 30% da exportação de petróleo. “Com isso o preço do petróleo deve continuar subindo beneficiando ações ligadas ao setor. Já as ações do setor doméstico e empresas que são fortemente impactadas por aumento de combustíveis tendem a sofrer, como as empresas do setor aéreo por conta do querosene de aviação“, explica Andre.

Por outro lado, Petrokas, da Quantzed, acredita que uma empresa que pode se beneficiar, no setor de aviação, é a Embraer. “Se a guerra escalar, pode surgir uma necessidade de jatos e caças e isso pode beneficiar a companhia”, afirma. 

Em cenários de incerteza, Petrokas indica ao investidor ficar de olho em ações mais defensivas como empresas do setor elétrico e saneamento, que tendem a ser mais resilientes em cenários de alta volatilidade. “Empresas como Sanepar, Sabesp, Equatorial Energia apresentam mais resiliência. Então, são nomes defensivos que sempre caem bem. Para os mais arrojados, nomes como Petrorio podem se beneficiar também caso o conflito piore e isso se reflita no preço do petróleo”, diz.