Risco fiscal e juros

HSBC recomenda não investir no Brasil: "ambiente tóxico"

Estratégias do banco apontam um desempenho ruim para o mercado brasileiro em 2025, com destaque ao risco fiscal e juros altos.

HSBC - Criador: Hollie Adams - Crédito: Bloomberg
HSBC - Criador: Hollie Adams - Crédito: Bloomberg
  • O HSBC reduziu a classificação do Brasil para “underweight”, devido ao fraco desempenho da Bolsa e altos juros
  • O banco considera o Brasil uma “armadilha de valor”, com ações baratas, mas devido a riscos fiscais e baixo crescimento
  • O HSBC elevou a Arábia Saudita para “overweight”, destacando seu crescimento e menor dependência do petróleo

O início de 2025 chegou com mais um alerta de pessimismo sobre o mercado brasileiro, desta vez vindo do HSBC, um dos maiores bancos do mundo.

Após o final de 2024 ser marcado por cortes significativos na exposição ao Brasil por parte de grandes instituições financeiras globais, o banco decidiu rebaixar a perspectiva para o país. Passando de “neutra” para “underweight” (exposição abaixo da média), dentro dos mercados emergentes.

Diagnóstico de mercado

A principal justificativa do HSBC para a mudança de classificação está no diagnóstico de que o mercado brasileiro é um exemplo clássico do que é conhecido no jargão financeiro como “value trap” (ou armadilha de valor).

Em outras palavras, o banco acredita que, apesar da aparente desvalorização das ações brasileiras, isso não representa uma oportunidade real de compra. Pois o mercado está barato por um motivo: os negócios no Brasil não são atrativos, e a recuperação não parece estar à vista.

O relatório assinado pelos estrategistas Alastair Pinder, Nicole Inui e Herald van der Linde destaca que, mesmo com os valuations do Brasil parecendo favoráveis, as condições não são promissoras para uma recuperação rápida.

Em 2024, o mercado brasileiro teve um desempenho muito abaixo da média, com o Ibovespa caindo cerca de 30% em dólares. Dessa forma, colocando o Brasil na última posição entre os principais mercados emergentes.

O pessimismo que dominou o fim do ano passado parece não ter dado sinais de que a situação vá mudar no curto prazo.

“Os valuations estão baratos, mas estão baratos por uma razão”, afirmam os estrategistas do HSBC. “É improvável que o mercado tenha uma reclassificação até que haja uma queda nas taxas de juros e nos rendimentos dos títulos locais, o que pode não ocorrer antes do segundo semestre de 2025, no mínimo.”

Confiança dos investidores

O risco fiscal, especialmente, tem sido um dos maiores entraves ao mercado, abalando a confiança dos investidores, especialmente no final de 2024. Os juros reais, que permaneceram acima de 7% no Brasil, também são citados como um fator negativo para o desempenho da Bolsa nacional.

Diante desse cenário negativo, o HSBC sugere que os investidores se concentrem em ações mais defensivas e em setores com maior resiliência.

Entre as áreas de interesse, o banco destaca as empresas de digitalização e fintechs, além da aposta na expansão do setor agropecuário.

O banco também observa que, apesar do fraco desempenho geral do índice Bovespa, alguns fundos de mercados emergentes têm encontrado oportunidades no Brasil, superando o benchmark brasileiro em 8% nos últimos 12 meses.

As áreas que mais se destacaram foram o consumo discricionário e os financeiros, com empresas como Mercado Livre (BDR: MELI34) e Itaú (ITUB4) sendo bastante populares entre investidores de diferentes partes do mundo, como os da Arábia Saudita.

Visão pessimista

Em contraste com a visão pessimista sobre o Brasil, o HSBC demonstrou uma atitude otimista em relação à Arábia Saudita.

O país, que antes tinha uma classificação neutra, foi elevado para “overweight” (exposição acima da média) dentro dos mercados emergentes, destacando-se como um dos poucos com perspectivas positivas no cenário atual.

O banco acredita que o ambiente de dólar forte será um fator crucial para o bom desempenho das ações sauditas. Ainda, um ponto que reforça a atratividade do mercado árabe.

A Arábia Saudita apresenta um histórico de crescimento robusto, com o PIB real crescendo 2,7% no terceiro trimestre de 2024. Impulsionado, assim, principalmente pelo setor não relacionado ao petróleo, que cresceu 4,3%. Além disso, o HSBC aponta que o impacto das flutuações nos preços do petróleo sobre a economia saudita é menor do que se imagina. Ainda, com o dólar forte sendo o principal motor para os retornos relativos.

O mercado de ações saudita também tem se diversificado nos últimos anos, com uma diminuição da dependência do petróleo. Que representa hoje 62% das receitas do governo, uma queda em relação aos 73% registrados em 2014.

Demais marcados emergentes

Além da Arábia Saudita, o HSBC também segue otimista em relação a outros mercados emergentes. Como Indonésia, África do Sul e China, sendo que esta última tem sido uma das principais referências em suas projeções.

Em um cenário global desafiador, o rebaixamento do Brasil pelo HSBC reforça o clima de cautela em relação à economia brasileira, enquanto outros mercados emergentes, como a Arábia Saudita, ganham espaço na carteira de investidores.

As perspectivas para 2025, assim, permanecem incertas, e a Bolsa brasileira pode continuar enfrentando desafios antes de conseguir uma recuperação mais consistente.