
O anúncio de uma tarifa de 50% sobre todos os produtos brasileiros feito pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, gerou reação imediata da mídia internacional, que vê na medida um movimento político e inédito de intimidação econômica e diplomática contra o Brasil — com foco direto no Supremo Tribunal Federal (STF), no presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e no bloco Brics.
Enquanto o governo brasileiro avalia retaliações com base na Lei da Reciprocidade, os maiores veículos do mundo analisam a ofensiva norte-americana como um ataque pessoal disfarçado de política comercial.
O Wall Street Journal destacou que a medida de Trump está vinculada à repressão do STF, liderada por Alexandre de Moraes, ao discurso de ódio e à desinformação da extrema direita brasileira, incluindo conteúdo propagado nos próprios Estados Unidos.
O jornal lembrou também o apoio declarado do republicano a Jair Bolsonaro (PL), cujo julgamento no STF foi usado por Trump como justificativa indireta para a tarifação.
Na mesma linha, o Financial Times relatou que a carta enviada ao Brasil foi diferente das outras 21 enviadas a países aliados — com tom mais agressivo, exigindo o fim das ações contra Bolsonaro como condição para suspender as tarifas.
“Enquanto outros países receberam textos que exaltavam laços comerciais, a carta ao Brasil foi marcada por um tom hostil e personalista”, analisou o jornal britânico.
O Le Monde, da França, lembrou que, apenas dois dias antes do anúncio, Trump já havia ameaçado “qualquer país alinhado com o Brics”, após a cúpula do bloco no Rio de Janeiro condenar a guerra comercial dos EUA. O periódico francês ligou diretamente as tarifas à posição política do Brasil no cenário internacional.
Impacto imediato no mercado e risco de escalada tarifária
A Bloomberg destacou os impactos financeiros quase instantâneos: o real caiu quase 3% frente ao dólar, e o índice MSCI Brazil ETF, que acompanha ações brasileiras em Nova York, recuou quase 2% no pós-mercado.
A agência também apontou que a ordem de Trump para investigar o Brasil com base na Seção 301 da Lei de Comércio de 1974 — usada no passado para sancionar a China — pode abrir caminho para ainda mais tarifas.
Já a Reuters reforçou essa possibilidade e explicou que a Seção 301 permite tarifas unilaterais em resposta a práticas comerciais consideradas injustas, o que torna o movimento de Trump um alerta para novos embargos comerciais contra o Brasil.
Brasil é parceiro-chave dos EUA
O New York Times lembrou que os Estados Unidos são o segundo maior parceiro comercial do Brasil, atrás apenas da China, e avaliou que Trump estaria usando a economia como instrumento de pressão política. Segundo o jornal, a exigência velada do republicano seria o abandono da acusação contra Bolsonaro, em troca da suspensão das tarifas.
Já o Financial Times destacou que, em 2024, os EUA registraram superávit de US$ 7,4 bilhões no comércio com o Brasil, desmentindo a alegação de Trump sobre um suposto “déficit insustentável”.
“A intervenção em favor de Bolsonaro animará a extrema direita brasileira, que alega ser alvo de perseguição judicial por causa da regulação de desinformação digital”, alertou o FT.