
- Faturamento da indústria cresce 6,5% no 1º semestre, mas recua 2,6% no segundo trimestre.
- Produção e emprego registram quedas no período; UCI fica em 78,8%.
- CNI prevê segundo semestre desafiador, com juros altos e incerteza global.
A indústria brasileira encerrou o primeiro semestre de 2025 com alta de 6,5% no faturamento, segundo levantamento da Confederação Nacional da Indústria (CNI) divulgado nesta sexta-feira (8). O desempenho positivo ocorreu mesmo em um cenário de juros elevados, com a taxa Selic em 15% ao ano desde julho.
Apesar do bom resultado acumulado, os dados de junho mostram um ritmo mais lento. O faturamento industrial caiu 1,9% no mês e acumulou recuo de 2,6% no segundo trimestre, reforçando sinais de que o setor enfrenta dificuldades para sustentar o crescimento.
Ritmo mais lento no segundo trimestre
A desaceleração não se limita ao faturamento. Entre abril e junho, o número de horas trabalhadas na produção recuou 1% em relação ao trimestre anterior. No mesmo período, o emprego industrial encolheu 0,1%, resultado que interrompeu a sequência de estabilidade no mercado de trabalho do setor.
Assim, Larissa Nocko, especialista em Políticas e Indústria da CNI, avalia que o segundo semestre será desafiador para a indústria de transformação. Ela cita como entraves a carga tributária elevada, a demanda interna insuficiente e a falta de mão de obra especializada, que se somam ao custo do crédito.
Além das questões internas, há também incerteza no mercado internacional. Portanto, fatores como desaceleração da economia global e tensões comerciais podem influenciar negativamente a demanda externa por produtos industriais brasileiros.
Capacidade instalada e mercado de trabalho
A Utilização da Capacidade Instalada (UCI) atingiu 78,8% entre maio e junho, nível considerado relativamente elevado, mas que ainda permite espaço para expansão sem necessidade imediata de grandes investimentos.
No mercado de trabalho, a massa salarial da indústria subiu 1,3% em junho, acumulando alta de 1,2% no segundo trimestre. Ademais, esse aumento foi acompanhado por um crescimento de 1,2% no rendimento médio real no mês e de 1,7% no trimestre.
Apesar da melhora nos salários, a CNI ressalta que a recuperação do poder de compra não tem sido suficiente para impulsionar de forma consistente a demanda por bens industriais, especialmente em segmentos voltados ao consumo doméstico.
Impacto dos juros e da conjuntura global
A elevação da Selic para 15% em julho encarece o crédito para empresas e consumidores, afetando investimentos e compras de bens duráveis. Esse efeito tende a se prolongar, já que o BC indicou que pretende manter os juros elevados até que a inflação esteja firmemente sob controle.
Além disso, no comércio exterior, a indústria convive com um cenário de câmbio volátil e demanda global instável. Embora o real mais depreciado possa favorecer exportações, o ritmo mais fraco das economias desenvolvidas limita ganhos.
Desse modo, segundo a CNI, a combinação de juros altos e incerteza internacional exige das empresas estratégias mais eficientes de gestão de custos e de diversificação de mercados para manter margens e competitividade.
Perspectivas para o segundo semestre
O desempenho do setor no segundo semestre dependerá do equilíbrio entre fatores internos e externos. Internamente, qualquer melhora nas condições de crédito e na confiança do consumidor pode sustentar a produção. Externamente, estímulos econômicos em grandes mercados compradores podem ajudar.
Ademais, a CNI destaca que, mesmo com o crescimento no semestre, os sinais de desaceleração não podem ser ignorados. A agenda de reformas estruturais, segundo a entidade, é fundamental para melhorar a competitividade da indústria e criar condições para um ciclo mais sustentável de expansão.
Por fim, para manter o ritmo, será necessário enfrentar entraves históricos e adotar medidas que reduzam custos, incentivem a inovação e ampliem a produtividade, especialmente em um ambiente de juros elevados.