
- IPCA anualizado alcança 4,39% e ultrapassa centro da meta de 3%.
- Alimentos e saúde lideram alta dos preços em março.
- Cenário pressiona o Banco Central a manter juros elevados.
O IPCA acumulado em 12 meses subiu para 5,48% em março de 2025, superando o teto da meta de inflação estabelecida pelo governo. Apesar da desaceleração no índice mensal, a inflação continua pressionada, especialmente pelos preços de alimentos e bebidas.
Alta acumulada em 12 meses pressiona governo, impacta juros e eleva custo de vida
O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) acumulou alta de 4,39% em 12 meses até março, segundo o IBGE. Esse é o maior nível da inflação anual desde março de 2023, marcando um ponto de alerta para o governo e o Banco Central. Embora o índice ainda esteja abaixo do teto da meta inflacionária de 4,5% para 2025, ele já supera o centro da meta de 3% e acende luzes amarelas no mercado financeiro.
O resultado, que reflete a crescente pressão sobre os preços, reforça o desafio da equipe econômica em controlar o custo de vida, sobretudo entre as camadas mais pobres da população. Além disso, o cenário gera incerteza sobre os próximos passos da política monetária, uma vez que a taxa Selic pode sofrer influência direta do comportamento da inflação.
Frente ao recorde, especialistas alertam para a necessidade de vigilância redobrada por parte das autoridades monetárias. O presidente do Banco Central, Gabriel Galípolo, afirmou que a instituição seguirá focada no controle de preços, mesmo sob críticas políticas e pedidos por cortes mais rápidos nos juros.
Setores pressionam e revelam fragilidade no controle de preços
O grupo de alimentos e bebidas voltou a puxar a inflação, com alta de 0,53% em março, após meses de desaceleração. Produtos como batata-inglesa, frutas e leite longa vida encareceram, impulsionados por problemas climáticos e menor oferta. Esse avanço impacta diretamente as famílias de menor renda, já que esse grupo tem peso significativo no orçamento doméstico.
Além disso, o setor de saúde e cuidados pessoais registrou aumento de 0,91%, influenciado por reajustes autorizados em medicamentos e planos de saúde. Esses itens, muitas vezes essenciais, tornam-se obstáculos à redução da inflação quando acumulam altas contínuas. Enquanto isso, o setor de transportes teve variação mínima (0,03%), graças à queda nas passagens aéreas, que compensou os combustíveis mais caros.
De forma geral, o aumento nos preços se mostra disseminado entre os grupos do IPCA, o que indica uma inflação estrutural mais difícil de combater. Assim, mesmo que alguns segmentos apresentem estabilidade, a média geral segue pressionada, dificultando o cenário para uma política de juros mais branda.
Alta recorde reacende debate sobre taxa de juros
Diante do recorde inflacionário, os olhos se voltam para o Comitê de Política Monetária (Copom). A taxa Selic, atualmente em 10,75% ao ano, vinha sendo reduzida gradualmente. No entanto, com a inflação anual atingindo seu maior nível em dois anos, o Banco Central pode rever o ritmo de cortes.
A autoridade monetária já sinalizou cautela. De acordo com o último comunicado do Copom, a estratégia deve considerar tanto o cenário externo quanto as pressões internas de preços. A valorização de commodities e a instabilidade cambial também pesam na análise, dificultando decisões mais agressivas.
Nesse contexto, manter a credibilidade do Banco Central se tornou ainda mais crucial. Investidores e agentes econômicos acompanham de perto a comunicação da instituição, pois qualquer sinal de leniência pode provocar piora nas expectativas inflacionárias.
Perspectiva para os próximos meses é de atenção redobrada
Embora o mercado projete uma desaceleração gradual da inflação a partir de abril, a incerteza permanece alta. A entrada de novas safras agrícolas pode ajudar a reduzir o preço dos alimentos, mas eventos climáticos, oscilações no dólar e tensões geopolíticas podem reverter essa tendência.
Além disso, os efeitos da inflação acumulada já são sentidos nas decisões de consumo. Famílias tendem a postergar gastos, o que pode impactar negativamente o crescimento do PIB no curto prazo. Como consequência, o governo se vê pressionado a equilibrar responsabilidade fiscal com medidas de estímulo.
Portanto, a economia brasileira entra no segundo trimestre de 2025 com um cenário desafiador. Apesar de ainda estar tecnicamente dentro da meta, o IPCA anualizado rompeu a barreira dos 4% pela primeira vez desde 2023. Esse recorde inflacionário exige atuação firme para evitar que a inflação volte a se descontrolar.