Caos previdenciário

INSS paga 1 milhão de benefícios suspeitos por mês e desperdiça R$ 15 bilhões ao ano

Falhas no pente-fino, filas recordes e processos parados agravam o rombo da Previdência sob gestão Lula.

CPI do INSS
Crédito: Depositphotos
  • INSS paga mensalmente cerca de 1 milhão de benefícios com indícios de irregularidade
  • Fila de verificação acumula perdas de até R$ 15 bilhões por ano aos cofres públicos
  • Recursos, perícias e compensações também enfrentam atrasos e colapso na análise

O INSS acumula não só pedidos de aposentadoria, mas também uma fila silenciosa que drena bilhões dos cofres públicos todos os meses. Cerca de 1 milhão de benefícios com indícios de irregularidade seguem sendo pagos sem verificação adequada.

A demora na análise desses casos impede que a Previdência suspenda pagamentos indevidos e economize até R$ 15 bilhões ao ano, valor suficiente para cobrir programas sociais inteiros ou ampliar investimentos em saúde.

Benefícios sob suspeita seguem ativos por falta de pente-fino

Esses pagamentos fazem parte do chamado Monitoramento Operacional de Benefícios (MOB), que cruza dados de vários órgãos de controle, como TCU, CGU e inteligência da Previdência, e aponta sinais de fraude, acúmulo indevido ou perda de requisitos legais. Contudo, os alertas não são processados com agilidade.

De acordo com o consultor Leonardo Rolim, ex-presidente do INSS, mais da metade dos benefícios suspeitos costuma ser cancelada após análise. Ou seja, cerca de 578 mil dos 1 milhão pagos todos os meses podem estar irregulares.

Entre 2020 e 2021, o pente-fino conseguiu revisar 662 mil casos e economizar R$ 9,48 bilhões, graças a um bônus oferecido a servidores para acelerar o processo. No entanto, entre 2023 e 2024, com o fim do incentivo, a média de revisões mensais caiu pela metade, e a fila voltou a crescer.

Recursos, perícias e compensações travam outros R$ bilhões

Enquanto isso, outras filas também se acumulam sem solução. A de recursos administrativos, por exemplo, tem quase 1 milhão de processos. A média de espera ultrapassa 394 dias, ou mais de um ano. A professora Lilian de Souza, de 56 anos, aguarda desde 2019 o reconhecimento do seu tempo de contribuição, mesmo tendo atuado por mais de três décadas como docente.

Há também a fila da compensação previdenciária (Comprev), que reúne pedidos de ressarcimento de prefeituras e estados ao INSS por servidores que contribuíram em regimes distintos. São mais de 650 mil processos nessa categoria. Recentemente, o governo condicionou os pagamentos a dotações orçamentárias, o que deve atrasar ainda mais as liberações.

A fila da perícia médica, que já ultrapassa 950 mil pedidos, tende a crescer com a nova regra que reduz de 180 para 30 dias o prazo máximo do Atestmed, sistema de atestados online. Como o governo não contratou mais peritos, a demanda vai se concentrar nas consultas presenciais.

INSS ignora alertas e governo falha na gestão das filas

Na avaliação de Rolim, o governo Lula errou ao não reeditar em 2023 o programa de bônus que acelerava as análises. Segundo ele, o pagamento extra equivale à contratação de centenas de servidores experientes, com custo-benefício positivo para a Previdência.

Além disso, ele defende a contratação de temporários e a redistribuição imediata de peritos médicos para regiões com maior demanda. Mesmo diante do rombo fiscal, há soluções viáveis que poderiam melhorar os resultados sem ampliar despesas de forma estrutural.

Procurado, o INSS não se manifestou. Já o Ministério da Previdência afirmou que está adotando medidas para reduzir o prazo de recursos e redistribuir peritos, com meta de baixar o tempo médio de espera para 180 dias. No entanto, enquanto as ações não surtirem efeito, o sistema continua perdendo bilhões em pagamentos sem validação.

Luiz Fernando

Licenciado em Letras e Graduando em Jornalismo pela UFOP; Atua como redator realizando a cobertura sobre política, economia, empresas e investimentos.

Licenciado em Letras e Graduando em Jornalismo pela UFOP; Atua como redator realizando a cobertura sobre política, economia, empresas e investimentos.