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IR zerado para quem ganha até R$ 5 mil vai virar realidade? Entenda o que muda no seu bolso

Nova regra aprovada na Câmara alivia milhões, mas pode gerar rombo bilionário e travar investimentos no Brasil.

Imposto de renda 2024
Imposto de renda 2024
  • Você ganha até R$ 5 mil? Vai ficar isento do IR a partir de 2025 e economizar até R$ 4.300 por ano.
  • Quem ganha mais de R$ 600 mil por ano? Pode pagar até 10% a mais em impostos para compensar a renúncia.
  • Especialistas alertam: sem reforma completa e responsabilidade fiscal, o impacto será apenas passageiro.

A Câmara dos Deputados aprovou o aumento do limite de isenção do Imposto de Renda para até R$ 5 mil mensais. A proposta beneficia diretamente milhões de trabalhadores, mas especialistas alertam para riscos fiscais, perda de arrecadação e impacto negativo no ambiente de negócios.

O texto também prevê redução parcial do IR para quem recebe até R$ 7.350, além de uma compensação via aumento de impostos para quem ganha mais de R$ 600 mil por ano. Com o alívio financeiro à base da pirâmide, o governo espera popularidade, mas enfrenta críticas de economistas e advogados tributaristas.

Alívio imediato ou “salário extra”?

Segundo a advogada Tattiana Navarro, especialista em direito tributário, a nova faixa de isenção representará um ganho direto para o trabalhador. A economia anual estimada é de R$ 4.300 — valor que, dividido ao longo do ano, equivale a R$ 350 mensais. “É como um 14º salário distribuído mês a mês”, resume.

Nesse sentido, essa mudança pode ainda estimular a formalização do trabalho. Muitos brasileiros recebem parte do salário “por fora” para escapar da tributação. Com a isenção elevada, aumenta a segurança para que as empresas registrem os valores reais em carteira.

Além disso, a proposta traz isenções parciais para rendas entre R$ 5 mil e R$ 7.350. Um trabalhador que ganha R$ 5.500, por exemplo, teria 75% de isenção, mantendo boa parte do benefício. A partir desse teto, passa a valer a tabela progressiva tradicional, com alíquotas de 7,5% a 27,5%.

Portanto, apesar do alívio, Navarro alerta: muitos brasileiros, por falta de educação financeira, podem não perceber os ganhos. “Esse dinheiro extra tende a ser absorvido automaticamente no orçamento, sem planejamento ou poupança”, adverte.

Quem vai pagar a conta?

O impacto da proposta na arrecadação é considerável. Estima-se que mais de 26 milhões de brasileiros deixem de pagar IR, o que representa bilhões a menos nos cofres públicos. Para equilibrar as contas, o governo propõe taxar com até 10% adicionais os que ganham mais de R$ 600 mil anuais.

Sendo assim, Guilherme Hakme, coordenador do Conselho Tributário da Fiep, critica a solução: “Estamos elevando a carga sobre empresas para 41%, quase o dobro da média da OCDE, que é de 23%.” Ele teme fuga de investimentos, retração da economia e perda de empregos.

Ademais, como alternativa, Hakme defende taxar setores como apostas esportivas, ou rever gastos públicos em vez de penalizar o setor produtivo. Ele também sugere ajustes técnicos, como a correção anual do valor mínimo de tributação e o fim da retenção de lucros na fonte.

Nesse sentido, a proposta pode gerar mais desequilíbrio do que justiça fiscal. Por fim, o discurso de beneficiar a base trabalhadora precisa ser acompanhado de responsabilidade orçamentária, segundo especialistas.

Reforma fatiada ou alívio temporário?

Para o tributarista Gabriel Vieira, do Grupo GSV, a nova regra não resolve o principal problema do IR: a defasagem da tabela. Desde 1996, a inflação acumulada supera 140%. “O ideal seria uma faixa de isenção em R$ 6.500 para refletir a inflação”, avalia.

Além disso, Vieira também destaca que os efeitos práticos só serão sentidos após a atualização da folha de pagamento. “Pode levar de 30 a 60 dias após a sanção presidencial”, explica. Ele lembra ainda que a isenção vale apenas para salários — rendimentos como aluguel e dividendos seguem tributados.

Apesar disso, ele vê a medida como um possível começo de uma reforma mais ampla. A correção da faixa mínima é necessária, mas precisa vir acompanhada de uma reorganização das demais faixas, deduções e alíquotas.

Desse modo, se aprovada isoladamente, a medida corre o risco de ser apenas um alívio momentâneo. Portanto, sem um plano completo, especialistas alertam que o sistema continuará desigual e pouco eficiente.

Luiz Fernando

Licenciado em Letras e Graduando em Jornalismo pela UFOP; Atua como redator realizando a cobertura sobre política, economia, empresas e investimentos.

Licenciado em Letras e Graduando em Jornalismo pela UFOP; Atua como redator realizando a cobertura sobre política, economia, empresas e investimentos.