Crédito privado

Isenção ainda atrai: JGP vê demanda forte por LCI e CRI mesmo com IR de 5%

Para sócio da gestora, alta dos juros e fraqueza fiscal mantêm apetite por títulos isentos, apesar da MP que prevê taxação.

Isenção ainda atrai: JGP vê demanda forte por LCI e CRI mesmo com IR de 5%
  • JGP aponta compressão de spreads e alta demanda por LCI, CRI, LCA e CRA, mesmo após anúncio de taxação
  • Juros elevados aumentam o benefício tributário e favorecem grandes empresas no mercado de crédito
  • Medida provisória ainda pode cair no Congresso, mas não deve reverter movimento do mercado

Mesmo após a Medida Provisória 1.303/2025 anunciar a taxação de 5% sobre rendimentos de títulos isentos a partir de 2026, os investidores seguem em busca de produtos como LCI, CRI, LCA e CRA. A avaliação é de Alexandre Muller, sócio da JGP, gestora com R$ 34 bilhões sob custódia.

Segundo ele, a isenção de Imposto de Renda continua atrativa em um cenário de juros elevados. “Quanto maior o juro, maior o benefício tributário”, afirma. Além disso, a fragilidade política do governo pode dificultar a aprovação da MP no Congresso, o que mantém o interesse pelos papéis.

Spreads comprimidos, mas demanda resiliente

A corrida por papéis isentos reduziu o spread em relação aos títulos do Tesouro. Mesmo assim, a demanda permanece alta, especialmente por parte de investidores institucionais. Para Muller, o movimento é estrutural e não apenas uma reação tática à MP.

O sócio da JGP explica que o retorno líquido ainda é vantajoso. Em um cenário com Selic a 15% ou IPCA + 7,5%, a isenção resulta em ganhos reais mais altos, principalmente quando comparados aos produtos tributáveis. “O benefício continua alto mesmo com spread menor”, diz.

A gestora acompanha de perto o mercado por meio do Index-Infra, que monitora cerca de 400 debêntures de infraestrutura. O índice tem ajudado a dar mais visibilidade a esse setor, além de servir como parâmetro para emissores e investidores institucionais.

Crédito privado desacelera, mas não trava

No início do ano, a JGP previa um arrefecimento nas emissões de crédito privado — e essa projeção se confirmou. Segundo Muller, as ofertas mensais caíram de R$ 25 bilhões em 2024 para cerca de R$ 10 bilhões em 2025. O principal motivo é o juro elevado, que desestimula investimentos corporativos.

Empresas estão segurando o Capex e evitando novas dívidas. Muitas já alongaram passivos no ano anterior, reduzindo a necessidade de novas captações. Por isso, o ambiente atual se mostra mais favorável ao credor do que ao acionista, que vê o lucro ser corroído pelos juros altos.

Na prática, os credores recebem rendimento atrelado ao CDI, enquanto os acionistas arcam com os efeitos da política monetária. Isso gera um cenário desafiador para empresas pequenas e médias, que enfrentam maior dificuldade de acesso a crédito.

Grandes empresas dominam e repassam o custo

Embora o custo de crédito esteja alto, não há uma onda de inadimplência no mercado. A explicação está na concentração. Companhias como Localiza e Movida seguem reajustando preços, o que permite repassar o custo do capital ao consumidor final.

Muller também destaca que o mercado de capitais está mais desenvolvido do que há cinco anos. Hoje, empresas contam com alternativas como debêntures de infraestrutura, CRAs, CRIs, FIDCs e operações de securitização, além do crédito bancário tradicional.

Esse ambiente permite que as grandes empresas tenham acesso amplo a funding, enquanto as menores continuam com oferta restrita. A diferença de acesso ao crédito, segundo ele, é um efeito direto da política fiscal frouxa que pressiona os juros e agrava a desigualdade no mercado.

MP pode cair, mas efeitos são duradouros

Com a recente derrota do governo no decreto do IOF, há especulações sobre a possível rejeição da MP no Congresso.

No entanto, Muller acredita que isso não causaria uma reversão significativa nos spreads dos títulos isentos.

Por fim, ele argumenta que o movimento de compressão foi relativamente pequeno no mercado secundário e que a demanda é sustentada por fundamentos sólidos, como a busca por isenção tributária em um ambiente de juros altos. “Não parece ser algo passageiro”, conclui.

Luiz Fernando

Licenciado em Letras e Graduando em Jornalismo pela UFOP; Atua como redator realizando a cobertura sobre política, economia, empresas e investimentos.

Licenciado em Letras e Graduando em Jornalismo pela UFOP; Atua como redator realizando a cobertura sobre política, economia, empresas e investimentos.