Fábrica na Bahia

Acusões de trabalho escravo na BYD: empresa terceirizada se pronuncia

Contratada pela fabricante chinesa de veículos elétricos, empresa defende seus funcionários e alega mal-entendidos nas auditorias fiscais.

Acusões de trabalho escravo na BYD: empresa terceirizada se pronuncia
  • O Ministério do Trabalho do Brasil encontrou 163 trabalhadores chineses em condições de trabalho análogas à escravidão em uma fábrica da BYD na Bahia
  • A contratada do BYD, Jinjiang Group, refutou as acusações, alegando que houve mal-entendidos e problemas de tradução
  • A BYD cortou relações com o Jinjiang Group e se comprometeu a cooperar com as autoridades brasileiras para esclarecer a situação
  • O governo da China, por meio de sua embaixada, afirmou que está em contato com o Brasil para investigar e resolver a situação, enquanto o Jinjiang divulga um vídeo defendendo seus trabalhadores

O Jinjiang Group, empresa contratada pela fabricante chinesa de veículos elétricos BYD, refutou as acusações de que seus funcionários estariam trabalhando em condições análogas à escravidão em um canteiro de obras da fábrica da BYD na Bahia.

A alegação foi feita pelo Ministério do Trabalho brasileiro na última quarta-feira (25), quando uma equipe de auditores fiscais encontrou 163 trabalhadores chineses em condições de trabalho que, segundo a fiscalização, se assemelham à escravidão.

“Mal-entendidos”

Em uma declaração oficial divulgada nesta quinta-feira (26) em sua conta no Weibo, o Jinjiang Group negou as acusações e afirmou que houve mal-entendidos, especialmente devido a problemas de tradução.

A empresa também expressou indignação sobre o rótulo de “escravizado” aplicado aos seus funcionários. No entanto, dizendo que tal descrição feriu a dignidade dos trabalhadores e violou seus direitos humanos, além de prejudicar a imagem da China.

“Ao ser injustamente rotulada como ‘escravizada’, a dignidade dos nossos funcionários foi insultada, ferindo seriamente o povo chinês. Assinamos uma carta conjunta para expressar nossos verdadeiros sentimentos”, afirmou a empresa em sua publicação.

A mensagem foi compartilhada por Li Yunfei, gerente de marca e relações públicas da BYD, que também se manifestou sobre o caso em suas redes sociais. Ainda, acusando “forças estrangeiras” e veículos de mídia chineses de “deliberadamente difamar marcas chinesas e o país”. E, ainda, de minar as relações entre a China e o Brasil.

Corte de laços

A BYD, por sua vez, anunciou que cortou os laços com o Jinjiang Group, a empresa subcontratada que trouxe os trabalhadores chineses para o Brasil.

A fabricante de veículos elétricos informou que está cooperando com as autoridades brasileiras para esclarecer a situação. Quando questionada sobre os comentários feitos pelo Jinjiang, a BYD direcionou a imprensa para a postagem de Li Yunfei no Weibo, mas não fez outros comentários.

O incidente ocorre em meio ao processo de construção de uma nova fábrica da BYD no Brasil. Contudo, que terá capacidade para produzir 150.000 carros elétricos por ano.

O projeto faz parte dos planos da empresa para iniciar a produção de veículos no Brasil. No entanto, um dos maiores mercados externos para a fabricante, a partir de 2024 ou início de 2025.

O Brasil anunciou que, em julho de 2026, aumentará as tarifas sobre os veículos elétricos importados de 18% para 35%. Dessa forma, o que também pode afetar o mercado local de carros elétricos.

Reação chinesa

A situação gerou reações também do governo chinês. Na quarta-feira, a porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da China, Mao Ning, afirmou que a embaixada chinesa no Brasil estava em contato com as autoridades brasileiras para verificar as circunstâncias do caso e tomar as providências necessárias.

Em sua defesa, o Jinjiang Group alegou que as perguntas feitas pelos auditores fiscais brasileiros foram “sugestivas”. E, no entanto, que a barreira linguística e as diferenças culturais contribuíram para o mal-entendido.

A empresa divulgou ainda um vídeo com um grupo de trabalhadores chineses, no qual um deles lê uma carta assinada por 107 funcionários. A carta afirmava que os trabalhadores entregaram seus passaportes à empresa para solicitar um certificado de identidade temporário no Brasil. Mas, negavam ter sido forçados a entregar os documentos ou trabalhar em condições desumanas.

“Estamos muito felizes por vir a Camaçari para trabalhar”, disse um dos trabalhadores chineses no vídeo.

“Temos cumprido as leis e os regulamentos, trabalhando duro para que a construção do maior projeto de veículos de energia nova no Brasil seja concluída o mais rápido possível”, acrescentou.

A polêmica, portanto, gerou tensão entre as autoridades brasileiras e chinesas, que agora buscam esclarecer os detalhes dessa acusação. E, que envolveu questões trabalhistas e culturais delicadas entre as duas nações.

A investigação continua, e a BYD mantém seu compromisso de cooperar com as autoridades para garantir o respeito às normas trabalhistas.