Crédito pessoal

Juros do consignado privado disparam e já são o dobro dos cobrados a servidores e aposentados

Mesmo com programa do governo, taxa média para trabalhadores CLT chega a 3,79% ao mês em junho, aponta Banco Central.

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  • Taxa de juros do consignado privado sobe para 3,79% ao mês, o maior nível desde o lançamento do programa Crédito do Trabalhador.
  • Percentual é o dobro do aplicado a aposentados e servidores públicos, que pagam cerca de 1,8%.
  • O governo permitiu que trabalhadores usem o FGTS como garantia para tentar reduzir os juros, mas a medida ainda causa impacto limitado.

A taxa de juros do consignado privado subiu novamente e atingiu seu maior patamar desde o lançamento do programa Crédito do Trabalhador. Segundo dados divulgados pelo Banco Central nesta segunda-feira (28), a média mensal chegou a 3,79% em junho, acima dos 3,75% registrados no mês anterior.

A alta contraria a proposta do programa federal, que prometia ampliar o acesso ao crédito com garantias adicionais e condições mais favoráveis para trabalhadores com carteira assinada. Ainda assim, os números indicam que os efeitos práticos da medida estão distantes da promessa.

CLT ainda paga mais que o dobro em relação ao setor público

Mesmo com garantias como o FGTS, os trabalhadores do setor privado continuam enfrentando as maiores taxas entre os grupos elegíveis ao consignado. Enquanto os profissionais CLT pagam 3,79% ao mês, aposentados do INSS têm taxa média de 1,83%, e servidores públicos, de 1,84%.

Essa diferença afeta diretamente o custo final dos empréstimos. Um crédito de R$ 10 mil contratado por um servidor terá um encargo de juros muito menor ao longo do prazo, comparado ao mesmo valor contratado por um trabalhador da iniciativa privada.

Embora o crédito consignado seja considerado mais seguro por ter desconto direto em folha, isso não tem sido suficiente para garantir condições equivalentes entre os diferentes grupos. A desigualdade nas taxas acende o alerta para a necessidade de ajustes estruturais no programa.

Além disso, a elevação das taxas em junho ocorre em um contexto de inflação controlada e Selic estável, o que torna o movimento ainda mais preocupante para os consumidores.

Uso do FGTS como garantia ainda não surte efeito

Um dos principais pilares do programa federal lançado em março foi permitir o uso do FGTS como garantia. A expectativa era que isso reduzisse os riscos para os bancos, o que, na teoria, levaria à diminuição dos juros.

Porém, na prática, essa redução ainda não chegou ao consumidor. Os dados do Banco Central mostram que o custo médio do crédito consignado privado segue elevado, mesmo com essa proteção adicional.

O baixo impacto pode estar ligado à adesão tímida das instituições financeiras. Muitas ainda não operacionalizaram o uso do FGTS como garantia, seja por dificuldades técnicas ou por receio quanto à execução do benefício em caso de inadimplência.

Sem um esforço coordenado entre governo e setor bancário, o uso do FGTS tende a permanecer como uma alternativa pouco explorada e com alcance limitado.

Especialistas defendem ajustes e mais concorrência

Analistas afirmam que o programa Crédito do Trabalhador ainda tem potencial para funcionar, mas precisa de ajustes urgentes. O primeiro deles é ampliar a concorrência entre os bancos, o que pode ser feito por meio de incentivos e maior transparência nas ofertas.

Outro ponto importante é a automatização do uso do FGTS, para que o processo seja mais simples e acessível ao trabalhador. Isso permitiria uma aplicação mais ampla do programa e incentivaria a queda das taxas.

Por fim, é necessário comunicar melhor os benefícios e regras do crédito consignado para CLTs. Muitos ainda não sabem que têm direito à linha com garantias e condições potencialmente mais favoráveis.

Luiz Fernando

Licenciado em Letras e Graduando em Jornalismo pela UFOP; Atua como redator realizando a cobertura sobre política, economia, empresas e investimentos.

Licenciado em Letras e Graduando em Jornalismo pela UFOP; Atua como redator realizando a cobertura sobre política, economia, empresas e investimentos.