
- Lula considera telefonema para Trump, mas só se houver garantias de resposta e foco econômico.
- Governo teme novo episódio de humilhação como os vividos por outros presidentes estrangeiros com Trump.
- Chanceler Mauro Vieira tenta abrir caminho para diálogo direto, mas ainda sem sinal verde dos EUA.
Lula considera fazer uma ligação direta a Donald Trump para tentar frear o tarifaço de 50% sobre produtos brasileiros, previsto para entrar em vigor no dia 1º de agosto. No entanto, o temor de ser ignorado ou submetido a constrangimentos públicos tem adiado qualquer ação concreta por parte do Planalto.
Aliados próximos, diplomatas e conselheiros alertam que qualquer contato entre os dois líderes precisa de preparação cuidadosa, evitando improvisos. Apesar da pressão de setores econômicos, Lula ainda aguarda um sinal claro de que o presidente americano aceitaria o diálogo e focaria na pauta comercial, sem exigir concessões políticas.
Clima de tensão trava contato direto
Dentro do governo brasileiro, há uma ala que defende o telefonema como sinal de disposição ao diálogo. Entretanto, o histórico de Trump com líderes estrangeiros preocupa. O republicano tem demonstrado postura ríspida em reuniões com outros presidentes, como os da Ucrânia e da África do Sul, o que acendeu o alerta no Itamaraty.
Gleisi Hoffmann, ministra da Secretaria de Relações Institucionais, afirmou que uma conversa entre chefes de Estado “não é telemarketing” e exige articulação prévia. Fernando Haddad, ministro da Fazenda, reforçou que o Brasil não deve adotar postura submissa e que o diálogo precisa ser equilibrado.
Enquanto isso, o chanceler Mauro Vieira se encontra em Nova York, onde participa de reuniões nas Nações Unidas. Ele deixou claro que está disposto a ir a Washington caso seja recebido em alto nível. Contudo, até agora, o governo Trump não respondeu aos sinais enviados pelo Brasil.
Medo de humilhação e silêncio diplomático
O Planalto teme repetir episódios em que Trump expôs outros líderes a constrangimentos. Desde que assumiu, ele se vale de redes sociais para comunicar medidas e provocar interlocutores. O tarifaço, por exemplo, foi anunciado em carta publicada online, que o Itamaraty devolveu sem resposta formal.
Lula, por sua vez, já reconheceu publicamente a vitória de Trump, ainda em 2024, em gesto visto como tentativa de abrir canais diplomáticos. No entanto, não houve retorno. A relação entre ambos se deteriorou antes mesmo do novo mandato do republicano, marcada por divergências políticas e trocas de críticas.
Por isso, integrantes do governo querem garantias de que uma ligação será atendida e que o foco será exclusivamente comercial. A avaliação é que Trump não busca apenas diálogo econômico, mas também uma espécie de trunfo político, com reflexos na situação de Jair Bolsonaro.
Empresariado pressiona, mas cautela impera
Empresas afetadas pelo tarifaço têm pressionado o governo brasileiro por ações concretas. Representantes do agronegócio e da indústria exportadora exigem articulação para tentar evitar perdas bilionárias. Mesmo assim, Lula prefere aguardar o desenrolar das conversas técnicas antes de se expor pessoalmente.
Apesar da urgência, o governo aposta em um plano de contingência articulado por Haddad e Vieira. O plano inclui desde socorro financeiro até reformulação de programas de exportação. A expectativa é que, mesmo sem o telefonema, seja possível amenizar os impactos das tarifas.
Além disso, interlocutores do governo apontam que Trump ainda não deixou claro qual será sua postura definitiva. Até o momento, os canais diplomáticos permanecem bloqueados e qualquer contato direto pode representar um risco político para o presidente brasileiro.
Alternativas seguem em negociação
Mauro Vieira segue buscando uma audiência com representantes de Trump. A missão é clara: tentar desbloquear o caminho para um eventual contato entre os presidentes. No entanto, como o prazo é curto, cresce a pressão para que o Brasil adote outras medidas de retaliação ou cooperação internacional.
O Congresso brasileiro, por exemplo, aprovou recentemente a Lei de Reciprocidade Econômica, que autoriza o país a responder com tarifas semelhantes. Essa possibilidade está na mesa, mas Lula ainda prefere a negociação direta.
Caso o telefonema ocorra sem preparação e resulte em recusa ou constrangimento, o impacto pode ser ainda mais negativo do que a tarifa em si. Por isso, enquanto o prazo corre, o Planalto anda em círculos, dividindo-se entre a urgência econômica e o receio de desgaste político.