- Em dezembro de 2024, o Brasil registrou uma fuga líquida de US$ 14,3 bilhões em investimentos estrangeiros, afetando o mercado de câmbio e pressionando o dólar
- A remessa de lucros e dividendos foi abaixo do esperado, com US$ 4,074 bilhões enviados ao exterior, menor que o valor de 2023
- O Brasil recebeu US$ 2,765 bilhões em investimentos diretos em dezembro, indicando confiança dos investidores estrangeiros a longo prazo
O Brasil sofreu uma fuga significativa de investidores estrangeiros em dezembro de 2024, de acordo com as estatísticas divulgadas pelo Banco Central nesta quinta-feira (30).
No último mês do ano, o mercado cambial registrou uma saída líquida de US$ 14,291 bilhões em investimentos estrangeiros. Dessa forma, o que representa um dos maiores fluxos negativos desde o pico da pandemia, em 2020. Esse movimento gerou grande pressão sobre a moeda brasileira, contribuindo para a alta do dólar no período.
Surpresa negativa
O valor de US$ 14,291 bilhões foi uma surpresa negativa para o mercado, uma vez que a expectativa era de um impacto menor. No mesmo mês do ano anterior, o saldo negativo foi de US$ 827 milhões. Enquanto em dezembro de 2022 o Brasil havia registrado uma entrada de US$ 5,861 bilhões.
A saída líquida de capitais estrangeiros é comparável ao cenário de pânico vivido pelos mercados financeiros durante os primeiros meses da pandemia. Dessa forma, quando os fluxos de saída somaram US$ 14,854 bilhões.
Embora o Banco Central tenha identificado, anteriormente, que a saída de divisas no mercado financeiro estava ligada, em grande parte, ao pagamento de lucros e dividendos, os dados mais recentes não confirmam essa versão.
As remessas de lucros e dividendos, que incluem tanto rendas primárias quanto secundárias, totalizaram US$ 9,815 bilhões em dezembro. Esse valor foi inferior tanto ao registrado no mesmo mês de 2023 (US$ 12,661 bilhões) quanto ao de 2022 (US$ 11,014 bilhões).
Esse número é o menor para o mês de dezembro desde 2020, indicando que a remessa de lucros e dividendos não foi o principal responsável pela fuga de recursos.
Pagamento de lucros e dividendos
A análise mais detalhada das remessas mostra que, em dezembro de 2024, houve uma saída de US$ 4,074 bilhões. Ainda, abaixo dos US$ 4,591 bilhões registrados no mesmo mês de 2023.
Esse dado sugere que os pagamentos de lucros e dividendos ocorreram de forma mais moderada do que o esperado, alinhando-se às previsões do Banco Central. De acordo com o Relatório de Inflação de dezembro, o BC previa uma saída de US$ 46 bilhões ao longo de 2024. Contudo, com os fluxos líquidos encerrando o ano em US$ 45,571 bilhões, ligeiramente abaixo da projeção.
Mas, além das remessas de lucros e dividendos, o que causou a saída de investimentos estrangeiros em dezembro? Os dados do balanço de pagamentos indicam que a maior parte da fuga de capitais ocorreu no segmento de investimentos em carteira.
O saldo negativo foi de US$ 12,617 bilhões, sendo US$ 8,071 bilhões em fundos de investimento e ações e US$ 4,546 bilhões em renda fixa. Esses valores indicam que os investidores estrangeiros retiraram, principalmente, investimentos de curto prazo.
Saída de recursos
Por outro lado, os investimentos diretos, que envolvem aplicações de longo prazo, registraram um fluxo positivo. O Brasil recebeu US$ 2,765 bilhões em investimentos diretos em dezembro, e o ingresso efetivo de moeda foi ainda maior, com US$ 3,220 bilhões.
Esses dados indicam, no entanto, que os investidores estrangeiros mantiveram o interesse no Brasil a longo prazo, apesar da turbulência no mercado de câmbio.
A saída de recursos também não foi amplificada por investidores brasileiros. Embora tenha ocorrido uma retirada líquida de US$ 2,397 bilhões, o valor está em linha com as saídas dos anos anteriores.
Além disso, o fluxo de serviços, que inclui pagamentos por serviços prestados ao exterior, também permaneceu dentro dos padrões históricos, com um saldo negativo de US$ 2,738 bilhões no ano.
Embora a fuga de investidores estrangeiros tenha gerado volatilidade no câmbio e contribuído para a alta do dólar, o cenário cambial mostrou sinais de recuperação nas últimas semanas de dezembro, com o fluxo cambial se tornando positivo no segmento financeiro. Contudo, o impacto da saída de capitais ainda reverbera no mercado, e os especialistas seguem atentos aos movimentos do mercado em 2025.