
- Lula anuncia Plano Safra 2025/26 acima de R$ 500 bilhões, superando recordes anteriores.
- Juros devem subir em todas as modalidades, pressionados pela Selic em 15%.
- Comparações com gestões anteriores mostram que taxas mais baixas ocorreram fora dos ciclos petistas.
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) vai anunciar nesta segunda (30.jun) e terça-feira (1º.jul) um novo Plano Safra com valor superior a R$ 500 bilhões. O montante, somando os programas da agricultura familiar e empresarial, será o maior já lançado pelo governo federal. No entanto, o aumento na taxa básica de juros preocupa o setor, que já prevê encarecimento generalizado das linhas de crédito rural.
Recorde no crédito rural, com ressalvas
O Plano Safra 2025/26 terá recursos acima dos R$ 502 bilhões do ciclo anterior. De acordo com o Ministério da Agricultura, os valores foram corrigidos pela inflação de maio deste ano. A fatia empresarial — historicamente a maior — representará mais de R$ 420 bilhões. Já a agricultura familiar deve receber cerca de R$ 80 bilhões, número também superior ao ciclo 2024/25.
Embora o volume seja recorde, o clima no setor não é de euforia. A razão é simples: os juros. A Selic em 15% — maior patamar desde o governo Temer — pressiona o custo final dos financiamentos. Pequenos, médios e grandes produtores terão acesso a crédito, mas com taxas que devem superar os percentuais praticados nos últimos ciclos.
Além disso, desta vez, os anúncios ocorrerão em dois dias distintos. O crédito para a agricultura familiar será revelado na segunda, enquanto o destinado à produção empresarial sairá apenas na terça, em evento no Palácio do Planalto com a presença do presidente e dos ministros da área.
Juros maiores devem atingir todos os perfis
A expectativa é que, pela primeira vez desde 2016, as linhas de crédito agrícola voltem a operar com juros significativamente maiores. No biênio passado, as taxas variaram de 6% a 12% ao ano nas linhas pré-fixadas. Agora, com a Selic em dois dígitos, muitos especialistas acreditam que a alta será inevitável em praticamente todas as modalidades.
Programas como o Pronaf, voltado à agricultura familiar, e o Pronamp, para médios produtores, historicamente ofereciam taxas mais baixas. Em 2024/25, por exemplo, o Pronaf operou com até 6% ao ano. No entanto, ainda não se sabe se essas condições serão mantidas com a nova política monetária.
Já as linhas de custeio para grandes produtores — que chegaram a 12% em 2023 e 2024 — devem se manter ou subir. Com a Selic em 15%, o governo terá mais dificuldade em oferecer crédito subsidiado sem ampliar os gastos públicos, o que pode gerar tensão fiscal.
Disputa política e comparações com o passado
Durante discurso recente em feira agropecuária, Lula afirmou que, em seus primeiros mandatos, o produtor rural podia financiar tratores com juros de 2% ao ano. Contudo, os dados mostram outra realidade. Desde 2003, as menores taxas sob Lula estiveram acima de 5%, exceto em 2009, quando houve um recuo para 3%.
Sob Bolsonaro, por outro lado, a taxa mínima chegou a 2,8% no ciclo 2020/21. Lula sempre criticou o ex-presidente, embora ele tenha mantido juros mais baixos do que em boa parte dos ciclos petistas. Isso gera embate político sobre quem ofereceu melhores condições ao agronegócio.
Mesmo assim, o atual governo sustenta que o plano 2025/26 é o maior da história e visa reforçar o papel da agricultura no crescimento econômico. Com apoio dos ministros Carlos Fávaro e Paulo Teixeira, o anúncio vem em meio a um ambiente fiscal delicado, o que pode limitar futuras flexibilizações.