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Lula corre o risco de ficar à deriva

Foto/Reprodução GDI
Foto/Reprodução GDI

Devemos ver nos próximos dias a primeira dança das cadeiras na Esplanada de Lula, com apenas seis meses da nova administração. A deputada Daniela Carneiro (União/RJ) será trocada pelo deputado Celso Sabino (União/PA), na pasta do Turismo.

É válido lembrar que Daniela foi alçada à ministra sem que houvesse uma consulta prévia à bancada. Ou seja, a deputada não representa uma indicação do União da Câmara e, por essas e outras, foi alvo de frequentes ataques e está em processo de saída da legenda. Ela chegou ao ministério pelas mãos do senador Davi Alcolumbre (União-AP).

Apetite do União.

Em declarações à imprensa na última terça-feira (13), o líder da bancada na Câmara, Elmar Nascimento, ressaltou que o partido vive a expectativa de a mudança não se restringir à troca de Daniela por Sabino. A bancada quer o sinal verde para ocupar os demais espaços que abrangem o Turismo. Entre eles a Embratur, presidida pelo Marcelo Freixo (PT-RJ).

“No início, quando eu fiz interlocução com o presidente (Lula) sobre isso, em que a perspectiva era a indicação da senadora Dorinha, era o ministério completo, com todas as posições, até porque é um ministério pequeno”, destacou Elmar, na ocasião.

Atualmente, também está na cota do União o ministério das Comunicações e de Integração Nacional.

Mas qual é o impacto dessa mudança no condomínio do poder de Brasília, na coalização e governabilidade de Lula?

Com o gesto, Lula amplia a sua adesão junto ao União Brasil e contempla o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL).

A importância do União Brasil está nos números. O partido é a terceira maior bancada na Câmara, com 59 deputados. Ele está atrás apenas da federação do PT (que inclui PCdoB e PV), com 81 e do PL (oposição) com 99 representantes.

A força do União Brasil pôde ser vista na votação do Marco Fiscal, pauta da agenda econômica do atual governo. Na Câmara, a legenda deu 87% dos votos da bancada (50 a favor 7 contra).

Parceiro de Lira.

Por sua vez, Celso Sabino é muito próximo de Lira. Essa aproximação ocorreu quando o deputado rompeu com a orientação do PSDB, do qual fazia parte, e apoiou a primeira eleição de Lira para presidente da Casa, em 2021. No ano seguinte, com as bênçãos do presidente da Câmara, Sabino assumiu a presidência da Comissão Mista de Orçamento (CMO). Ele foi um dos principais negociadores, ao lado de Lira, da distribuição das emendas RP9, também conhecidas como “emendas secretas”.

Pegando essas duas peças desse Puzzle (novo ministro alinhado com a bancada e com Lira) podemos entender que Lula está com a vida resolvida daqui para frente.

Não está!

O União Brasil apesar da indicação de Sabino não vai entregar todos os votos. Digo mais. Amanhã, se o PP de Lira também emplacar um nome na Esplanada, também não vai.

Esses partidos são formados por algumas lideranças regionais, que em suas bases foram eleitas com o voto de oposição à Lula. É verdade que o próprio Elmar Nascimento é um desses nomes. Mas ele hoje está na briga pela sucessão de Arthur Lira, que ocorrerá em 2025. Ele não vai querer ter o governo federal como um opositor.

Partido Âncora.

Ao ceder ao União e a Lira, Lula vai conseguir acalmar a turma que compõe o núcleo duro do Centrão, no curto prazo. Mas dentro da dinâmica de Brasília, só espaços não é garantia de fidelidade. Nos próximos meses, o próprio Elmar Nascimento se não receber apoio do governo para suceder Lira, pode ser o pivô do rompimento da bancada com o Palácio. Além disso, no médio prazo, quando a “lua de mel” de um ano do presidente acabar, o petista deverá encontrar mais dificuldades de governabilidade.

Um dos principais motivos está no fato de que ele, até o momento, não conseguiu estabelecer um “partido âncora”, um “partido-pivô”, para consolidar a sua coalizão. Para quem não está afeito ao termo, ele foi criado pelo cientista político, Sérgio Abranches. Em entrevista ao O Globo (16/09/2018), Abranches definiu “partido pivô” da seguinte forma:

“É o partido que representa o parlamentar básico, o parlamentar que domina o cenário na Câmara dos Deputados. Este partido já representa, nos estados, a base eleitoral. Quando chega ao Congresso, faz uma bancada grande… Sem este partido, o presidente para de ter comando sobre a agenda legislativa. É quando o Legislativo faz a pauta-bomba, a legislação que não é do interesse do presidente. Conflitante com a agenda presidencial. Foi o que aconteceu com Collor e Dilma”.

Olhando para o atual desenho da Câmara entendemos que nenhum partido tem exercido esse papel de “âncora”, que foi do velho PMDB, nos governos anteriores do PT. Com apoio de cerca de 150 dos 513 deputados, mesmo com os novos ajustes (Turismo, União, Sabino e Lira), as negociações dos projetos de interesse do governo Lula continuarão sendo caso a caso. Sem um partido âncora, Lula corre grande risco de ficar à deriva, no primeiro sinal de marola do eleitorado. Vamos acompanhando.