
Em um golpe duro para os celetistas da Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos (ECT), os funcionários da estatal terão o vale-natal de R$ 2,5 mil vetado neste fim de ano. A decisão, comunicada na noite de quarta-feira (4), reflete a grave crise financeira da estatal, agravada pela demora do governo Lula em aprovar um socorro emergencial do Tesouro Nacional. Enquanto o presidente e sua equipe econômica, liderada por Fernando Haddad, condicionam qualquer aporte a rígidas regras fiscais, milhares de carteiros e servidores enfrentam o Natal sem o benefício que receberam em 2024.
A medida faz parte de um pacote de austeridade imposto pela direção dos Correios, que prioriza cortes para viabilizar um plano de recuperação financeira.
“Neste ano, não haverá qualquer tipo de bonificação natalina, já que nenhuma despesa poderá ficar fora do plano de reestruturação da empresa que está em elaboração como contrapartida ao socorro financeiro”, afirmou uma fonte interna da estatal ao O Globo.
O vale, conhecido como Vale Peru, era pago em duas parcelas e constava do Acordo Coletivo de Trabalho (ACT) prorrogado até 16 de dezembro. A direção se reunirá com sindicatos na próxima terça-feira para discutir o tema, mas o corte já é irreversível.
Crise bilionária dos Correios sob gestão do Governo Lula
Os Correios acumulam prejuízos de R$ 6,05 bilhões de janeiro a setembro de 2025, impulsionados por queda nas receitas e explosão de despesas operacionais. A estatal negocia uma dívida de R$ 20 bilhões com bancos privados, mas o Tesouro Nacional rejeitou inicialmente as condições de juros (136% do CDI, acima do limite de 120% aceitável pelo governo). Sem o aporte emergencial de R$ 5 bilhões a R$ 6 bilhões, previsto para até 16 de dezembro, a empresa não consegue honrar compromissos como folha de pagamento, 13º salário e fornecedores – e o vale-natal vira a primeira vítima.
O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, foi claro ao vincular qualquer ajuda federal às “regras fiscais” do arcabouço orçamentário de Lula. “Se isso ocorrer com aportes do Tesouro, será dentro das regras fiscais“, declarou Haddad, em declaração que ecoa a resistência inicial do Planalto a injetar recursos na estatal, alegando falta de margem orçamentária e a necessidade de autonomia gerencial. Críticos apontam que a demora na avaliação do plano de recuperação – adiada para a próxima semana – é reflexo da rigidez fiscal imposta pelo governo petista, que prioriza o equilíbrio das contas públicas em detrimento de benefícios trabalhistas.
Milhares de demissões
O corte no benefício é só o começo de um cenário sombrio. Os Correios planejam um Programa de Demissão Voluntária (PDV) ampliado para 15 mil vagas até 2027 (ante 10 mil inicialmente previstos para 2026), além do fechamento de 1 mil agências e centros de distribuição. O ACT, com cerca de 70 cláusulas sociais e econômicas – incluindo reajustes salariais e vale-refeição –, segue prorrogado, mas negociações podem trazer mais ajustes dolorosos.
Especialistas veem na crise uma má administração do Governo Lula, e uso de cargos políticos e patrocínios constantes.
“A direção dos Correios resolveu alterar os planos de curto prazo visando à injeção financeira emergencial do Tesouro neste ano porque avalia que, em meio à maior crise financeira de sua história, não há mais tempo hábil para fechar as negociações com bancos”, relatou outra fonte ao O Globo.
O plano de recuperação, a ser executado em até dois anos, foca em eficiência operacional, novas fontes de receita e recuperação de mercado no setor de encomendas, mas depende da aprovação do Tesouro.
Repercussão e Expectativas
Sindicatos ainda não se pronunciaram oficialmente, mas o impacto no moral dos 80 mil funcionários é imediato: o vale de R$ 2,5 mil representava um alívio crucial no período natalino, especialmente para famílias de baixa renda. Enquanto isso, o governo Lula tenta resolver os problemas da estatal contraindo ainda mais dívida. A expectativa é de que o aporte saia até o fim da próxima semana, mas sem garantias de reversão do corte no benefício.
Os Correios, outrora símbolo de eficiência pública, agora simbolizam os dilemas do lulismo: intervenção estatal versus responsabilidade fiscal. Para os carteiros, o presente de Natal é amargo – e o crédito, ironicamente, vai para o Palácio do Planalto.
Fontes: Seu Dinheiro e O Globo.