
- Lula criticou o poder de veto no Conselho de Segurança, chamando-o de “tirania”.
- Presidente pediu que a Assembleia Geral da ONU ganhe mais autoridade em crises como a de Gaza.
- Brasil manteve a tradição de abrir os discursos da Assembleia desde 1950.
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva abriu, nesta terça-feira (23), o Debate Geral da 80ª Sessão da Assembleia Geral da ONU, em Nova York, mantendo a tradição que garante ao Brasil a primeira fala no evento.
Em seu discurso, Lula acusou potências globais de impor uma “tirania” por meio do poder de veto no Conselho de Segurança, criticou sanções unilaterais e defendeu que a Assembleia Geral assuma um papel mais ativo em crises internacionais, como a de Gaza.
Críticas ao Conselho de Segurança
Lula afirmou que a ONU enfrenta uma “consolidação da desordem internacional”, marcada por atentados à soberania, sanções arbitrárias e intervenções militares sem respaldo multilateral. Assim, em uma crítica indireta aos Estados Unidos, disse que tais práticas se transformaram em regra.
Segundo o presidente, o poder de veto dos membros permanentes do Conselho de Segurança “sabota” os princípios fundadores da ONU. Assim, ele afirma que isso mina a razão de existir da organização. Para ele, essa estrutura representa hoje um bloqueio ao avanço da diplomacia global.
Diante desse cenário, Lula sugeriu que a Assembleia Geral assuma autoridade para criar mecanismos de intervenção em conflitos, como o que ocorre na Faixa de Gaza. Desse modo, a proposta reforça a defesa histórica do Brasil por uma reforma nas instâncias de governança internacional.
Gaza e a omissão internacional
Na véspera, Lula havia acusado o Conselho de Segurança de se omitir diante do que chamou de “genocídio” praticado por Israel em Gaza. A declaração repercutiu no plenário da ONU e ecoou em seu discurso de abertura, no qual reforçou a urgência de respostas multilaterais.
O presidente afirmou que a ONU nasceu como expressão máxima da aspiração pela paz. Além disso, ele advertiu, porém, que os ideais que inspiraram sua criação estão em risco. Para Lula, a comunidade internacional não pode aceitar que interesses de poucos países se sobreponham à segurança coletiva.
Ele defendeu que a Assembleia Geral se torne um espaço mais representativo e efetivo. Portanto, segundo Lula, isso é fundamental para restaurar a credibilidade das Nações Unidas e garantir que princípios universais de soberania e paz prevaleçam.
Por que o Brasil abre os discursos
Desde 1950, o Brasil é o primeiro país a discursar na abertura da Assembleia Geral. A tradição surgiu após o país se voluntariar em um momento em que nenhuma nação queria inaugurar os debates, consolidando um papel simbólico na diplomacia da ONU.
Ademais, algumas hipóteses associam o prestígio brasileiro ao protagonismo do diplomata Osvaldo Aranha, que presidiu a sessão que aprovou a criação do Estado de Israel em 1947. Outra tese é de que o Brasil foi aceito como alternativa neutra em meio às disputas da Guerra Fria.
Por fim, ainda que os historiadores divirjam sobre a origem, a prática é hoje considerada estabelecida pela ONU e foi formalmente reconhecida em resoluções internas. Apenas em raros momentos, como nos anos 1980, o Brasil deixou de ser o primeiro a falar.