
Um levantamento do Tribunal de Contas da União (TCU) revelou que a Presidência da República gastou R$ 55,5 milhões em cartões corporativos entre janeiro de 2023 e abril de 2025. O dado mais alarmante, porém, é que 99% desse valor — cerca de R$ 55,2 milhões — está classificado como sigiloso, dificultando a fiscalização e o controle social dos recursos públicos.
A revelação coloca em xeque o compromisso do governo Lula com a transparência e acende o alerta sobre o uso indiscriminado de verbas públicas sem justificativas detalhadas ou prestação de contas à sociedade.
TCU aponta falta de transparência do Governo Lula
Segundo o TCU, os dados publicados pela Presidência no Portal da Transparência não permitem saber exatamente o que foi comprado, por quem e em qual circunstância. Os registros não possuem o detalhamento mínimo necessário, como a vinculação com notas fiscais ou descrição dos itens adquiridos. Além disso, até mesmo os gastos não classificados como sigilosos carecem de informações básicas.
A Corte de Contas destacou ainda que a forma como os dados são apresentados impede o cruzamento automático com outras plataformas públicas, o que compromete a transparência ativa exigida pela Lei de Acesso à Informação.
Vice-Presidência também gasta com sigilo
A falta de transparência também se repete na Vice-Presidência da República. Do total de R$ 393,9 mil gastos com o cartão corporativo desde o início do governo, R$ 362,2 mil foram mantidos sob sigilo — o equivalente a 92% do montante. A ausência de detalhamento compromete qualquer tentativa de fiscalização por parte da sociedade civil ou dos órgãos de controle.
O TCU reforça que, apesar de existirem tecnologias disponíveis para automatizar a publicação de informações detalhadas, não houve qualquer integração efetiva entre os sistemas internos da Presidência e os mecanismos públicos de acesso à informação.
Reincidência e omissão histórica
O problema não é novo. Segundo o TCU, já há um histórico de determinações anteriores que vêm sendo ignoradas pela Presidência. As recomendações para tornar os gastos mais transparentes são reiteradas desde 2017. Mesmo assim, em 2023 e 2024, os percentuais de sigilo permaneceram próximos de 100%.
Em comparação, durante os mandatos de Michel Temer e Dilma Rousseff, o percentual de gastos sigilosos com cartão corporativo variava entre 64% e 79%. Os dados da gestão Lula ultrapassam com folga esses números, estabelecendo um novo patamar de opacidade no uso de recursos públicos.
TCU exige resposta em 30 dias
O relator do processo, ministro Walton Alencar Rodrigues, determinou que a Presidência e a Vice-Presidência apresentem, no prazo de 30 dias, um plano de ação detalhado com medidas para corrigir as falhas apontadas. O plano deverá conter prazos, responsáveis e metas concretas para a abertura das informações atualmente protegidas por sigilo.
O TCU também alerta que as medidas adotadas até agora são paliativas e não atendem aos critérios mínimos de transparência previstos na Constituição. O tribunal quer que o Executivo adote soluções definitivas e tecnológicas para garantir o acesso da população aos gastos realizados com recursos públicos.
Em resumo
- R$ 55,5 milhões foram gastos pela Presidência com cartão corporativo entre 2023 e 2025;
- 99% das despesas estão classificadas como sigilosas, segundo o TCU;
- Governo Lula tem 30 dias para apresentar plano de ação e corrigir falhas graves de transparência.