
- Lula autorizou o processo da Lei da Reciprocidade contra tarifas impostas por Trump
- O presidente disse que prefere acordo, mas não aceitará passividade diante das medidas
- A Camex terá 30 dias para decidir se aplicará contramedidas, em meio a risco de escalada comercial
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) afirmou nesta sexta-feira (29) que o Brasil está aberto a negociações com os Estados Unidos mesmo após autorizar o processo de aplicação da Lei da Reciprocidade Econômica em resposta às tarifas impostas pelo presidente Donald Trump.
Em entrevista à Rádio Itatiaia, em Belo Horizonte, Lula declarou que a medida funciona como pressão inicial, mas ressaltou que prefere o diálogo ao conflito. “Eu não tenho pressa, porque quero negociar. O Brasil não precisa ficar de cabeça baixa diante dos Estados Unidos”, disse.
A lei da reciprocidade em ação
Na quinta-feira (28), o Ministério das Relações Exteriores submeteu à Camex (Câmara de Comércio Exterior) uma análise das medidas implementadas pelo governo Trump. A iniciativa acionou os trâmites do decreto 12.551, que regulamenta a lei aprovada em abril.
A Camex terá até 30 dias para avaliar se as medidas norte-americanas se enquadram na legislação. Se aprovada, discutirá contramedidas equivalentes ao prejuízo causado. Essa será a primeira vez que o instrumento poderá ser utilizado no Brasil.
A lei permite suspender concessões comerciais em resposta a barreiras impostas por outros países. O objetivo é garantir equilíbrio nas relações e evitar que práticas unilaterais enfraqueçam a competitividade da indústria nacional.
Lula endurece o discurso
Apesar de reforçar a disposição para negociar, Lula ressaltou que o Brasil não aceitará passivamente as tarifas impostas. “Se o Trump quiser negociar, estarei pronto. O que queremos é a verdade em cima da mesa e um comércio justo”, afirmou.
Ao lado da ministra dos Direitos Humanos, Macaé Evaristo, do ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, e do ex-presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), o petista reiterou que está disponível “24 horas por dia” para conversas com Washington.
Segundo Lula, a relação comercial tem sido vantajosa para os EUA. Ele destacou que mais de 73% dos produtos americanos entram no Brasil sem pagar imposto e que, em 15 anos, os Estados Unidos acumularam superavit de US$ 410 bilhões nas trocas bilaterais.
Conflito ou acordo à vista
Para o governo, a autorização da reciprocidade não significa um rompimento imediato, mas sim um movimento estratégico de pressão. A intenção é usar a ameaça de contramedidas como ferramenta para fortalecer a posição brasileira em futuras negociações.
Ainda assim, a decisão aumenta a tensão política e comercial entre os dois países. Caso a Camex decida aplicar a lei, o Brasil poderá retaliar tarifas impostas por Washington, elevando o risco de escalada.
O desfecho dependerá da disposição de ambos os governos em avançar para um entendimento. Lula, por ora, insiste que prefere acordo ao confronto, mas admite que não hesitará em usar todos os instrumentos disponíveis.