
- Lula criticou Trump e anunciou que o Brasil vai taxar empresas digitais dos EUA
- Discurso ocorreu em evento da UNE, em meio à crise diplomática com Washington
- Presidente acusou oposição de usar a tensão com os EUA como arma política
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) subiu o tom contra o presidente americano Donald Trump nesta quinta-feira (17), ao reagir às tarifas de até 50% impostas contra produtos brasileiros. Nesse sentido, durante discurso no Congresso da UNE, em Goiânia, Lula classificou a medida como um ataque direto à soberania nacional e prometeu retaliar cobrando impostos das big techs americanas.
A fala de Lula ocorre no momento mais tenso da crise diplomática com os Estados Unidos, que se agravou após a divulgação de uma carta assinada por Trump condicionando as tarifas à condução do julgamento de Jair Bolsonaro (PL) no Supremo Tribunal Federal. Desse modo, o Planalto considerou o gesto uma ingerência inaceitável.
“Não aceito ordem de gringo”, diz Lula
Em tom inflamado diante de milhares de estudantes, Lula foi direto ao criticar a postura do governo norte-americano. “Não é agora que vou aceitar ordem de gringo. O mundo precisa saber que este país é soberano porque o povo tem orgulho”, afirmou, sob aplausos.
Além disso, o presidente anunciou que a resposta do Brasil será diplomática, mas dura: “Vamos responder como democratas: cobrando imposto das empresas americanas digitais.” Logo, a declaração representa uma guinada na política comercial do governo, que vinha evitando embates frontais com Washington.
Lula ainda reforçou que o país não aceitará ameaças disfarçadas de política externa. “Não aceitamos a ideia de o presidente mandar um e-mail dizendo que, se não liberarmos o Bolsonaro, vai aplicar uma tarifa de 50%”, declarou. Desse modo, a menção direta à carta de Trump acentuou o clima de embate entre os dois países.
Big techs na mira e crítica à oposição
O anúncio de possíveis tributos sobre as big techs reacende um debate antigo sobre a atuação de empresas como Google, Meta e Amazon no Brasil. Embora o governo ainda não tenha detalhado como fará a taxação, deixou claro o gesto político: diante de pressão americana, o Brasil reagirá economicamente.
Ademais, durante sua fala, Lula também acusou a oposição de se aproveitar da crise para fins eleitorais. Em Goiânia, reduto do governador Ronaldo Caiado (União Brasil), o presidente apontou para o uso político da ameaça tarifária por líderes da direita nacional. “Tem gente querendo transformar isso em palanque. O povo precisa estar atento”, disse.
Por fim, Lula também comentou os desdobramentos do inquérito sobre a tentativa de golpe após as eleições de 2022. “É a primeira vez que temos generais de quatro estrelas presos por tentarem dar um golpe, com insinuações de que precisavam matar Lula, Moraes e meu vice. Ele garantiu: “Vamos julgar essa gente.”
Bolsonaro e a pandemia no discurso
Ao tratar da condução da pandemia, Lula voltou a apontar responsabilidades para o ex-presidente Jair Bolsonaro. Segundo ele, o ex-mandatário será responsabilizado judicialmente pelas mortes. “Ele vai ser processado pelas mortes causadas pela irresponsabilidade”, afirmou.
Além disso, o petista ainda ironizou a tentativa de Bolsonaro de obter apoio internacional. “Agora pede apoio dos Estados Unidos. Quem abraça a bandeira americana é um patriota falso. Que transfira o título e vote lá”, provocou.
Portanto, a retórica nacionalista marca uma nova fase do discurso de Lula, que aposta na soberania como resposta à pressão externa e como escudo político diante da escalada da oposição.