
- Chanceler Mauro Vieira foi convocado pela Câmara para explicar visita de Lula a Cristina Kirchner.
- Cristina foi condenada por corrupção e está inelegível na Argentina.
- Deputados consideram o gesto um erro diplomático que compromete a imagem do Brasil.
A Comissão de Relações Exteriores da Câmara dos Deputados aprovou nesta quarta-feira (10) a convocação do ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, para explicar a recente visita do presidente Luiz Inácio Lula da Silva à ex-presidente Cristina Kirchner. A viagem, classificada por parlamentares como um gesto político constrangedor, gerou forte reação entre opositores e pressionou o Itamaraty a dar explicações formais.
Associação de Lula com condenados por corrupção
Cristina Kirchner foi condenada em 2022 a seis anos de prisão e teve os direitos políticos suspensos por envolvimento em um esquema bilionário de corrupção. Mesmo assim, Lula esteve com ela no final de junho, em Buenos Aires, durante uma visita considerada “extraoficial” e paralela à cúpula do Mercosul.
Embora o encontro tenha sido tratado pelo governo brasileiro como uma visita de cortesia a uma “amiga”, deputados argumentam que a atitude compromete a imagem do país no cenário internacional. Segundo os parlamentares, o gesto equivale a uma afronta aos princípios de respeito às instituições judiciais dos países vizinhos.
Convocação foi aprovada por ampla maioria
A iniciativa de convocar o chanceler Mauro Vieira partiu de deputados da oposição, mas contou com apoio até mesmo de alguns parlamentares da base do governo. A proposta foi apresentada pelo deputado Luiz Philippe de Orleans e Bragança (PL-SP), que alegou que a diplomacia brasileira precisa ser transparente e respeitar decisões judiciais estrangeiras.
Com a aprovação da convocação, Mauro Vieira será obrigado a comparecer à comissão em data ainda a ser marcada. Ele deverá explicar não apenas os motivos da visita, mas também se o Itamaraty teve participação na organização do encontro.
Deputados lembraram que, em ocasiões anteriores, o presidente Lula já havia sido criticado por gestos considerados coniventes com líderes condenados por corrupção, como sua aproximação com Nicolás Maduro, da Venezuela. Para os parlamentares, esse padrão de comportamento compromete a credibilidade do Brasil em fóruns multilaterais.
Governo tenta minimizar o episódio
Integrantes do governo afirmam que a visita a Cristina Kirchner foi apenas uma “demonstração de solidariedade” e não teve caráter oficial. O Planalto reforçou que o encontro foi realizado fora da agenda diplomática e que não há qualquer intenção de interferência nas questões internas da Argentina.
No entanto, para a oposição, essa justificativa não se sustenta. “Não se pode separar a figura do presidente Lula do Estado brasileiro. Quando ele visita uma pessoa condenada por corrupção, mesmo de maneira informal, isso tem um impacto diplomático direto”, afirmou o deputado Nikolas Ferreira (PL-MG).
A crítica também ecoou entre analistas internacionais, que viram no gesto de Lula mais uma tentativa de reabilitar velhas alianças ideológicas na América Latina, mesmo diante de evidências de má conduta. A visita, segundo esses especialistas, pode prejudicar a atuação do Brasil em organismos internacionais que valorizam a transparência e o combate à corrupção.
Cristina segue inelegível, mas politicamente ativa
Apesar da condenação, Cristina Kirchner permanece influente no cenário político argentino. Ela se afastou da vida institucional, mas continua articulando alianças e influenciando o atual governo. A recepção calorosa de Lula fortaleceu a imagem de que a ex-presidente ainda conta com apoio internacional, especialmente entre líderes alinhados à esquerda latino-americana.
Cristina foi condenada por um tribunal federal da Argentina por favorecer empresas ligadas a Lázaro Báez em contratos de obras públicas durante seus mandatos. Embora ainda recorra da sentença, a condenação já produziu efeitos políticos concretos, como a perda de seus direitos políticos.
A visita de Lula, nesse contexto, reabriu o debate sobre os limites da solidariedade entre ex-líderes de esquerda e a necessidade de respeito às decisões da Justiça.