
A crise comercial brasileira acaba de ganhar um novo capítulo. Após as duras tarifas impostas por Donald Trump contra produtos nacionais, agora é a vez da Venezuela, sob o comando de Nicolás Maduro, adotar medidas semelhantes. O país vizinho passou a cobrar tarifas de até 77% sobre produtos brasileiros — mesmo aqueles que tradicionalmente estariam isentos dentro das normas do Mercosul.
A medida foi confirmada por autoridades de Roraima, estado que mais depende da exportação para o mercado venezuelano. De janeiro a junho deste ano, 70% das exportações roraimenses — cerca de US$ 41,5 milhões — tiveram a Venezuela como destino.
Roraima em alerta: “tarifaço” ameaça economia local
A imposição inesperada de tarifas gerou alarme imediato entre empresários, autoridades estaduais e o setor de comércio exterior. A Fier (Federação das Indústrias do Estado de Roraima) já reportou casos em que certificados de origem foram rejeitados, levando os produtos brasileiros a serem taxados em até 77%, como se fossem importados de fora do bloco sul-americano.
O governo de Roraima entrou em contato com o Itamaraty e o Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC) para cobrar uma solução urgente. Há suspeitas de que as tarifas sejam fruto de um erro técnico, mas também há quem veja retaliação ou endurecimento deliberado por parte do regime chavista.
Maduro e Trump: extremos diferentes, mesma estratégia tarifária
O que mais chama atenção é o timing da medida. Ela ocorre logo após os Estados Unidos, sob o comando de Trump, anunciar tarifas de 50% contra exportações brasileiras. Agora, um dos principais aliados ideológicos do governo Lula no continente decide fazer o mesmo — mas com intensidade ainda maior.
O gesto de Maduro deixa o Brasil em uma posição desconfortável, especialmente diante das promessas de reaproximação feitas pelo governo Lula com a Venezuela. A retórica de integração regional se choca com a realidade protecionista e agressiva adotada por Caracas.
Exportadores em desvantagem: custos aumentam, competitividade desaba
Com as novas tarifas, exportadores brasileiros ficam em desvantagem competitiva em relação a concorrentes de outros países. Produtos como alimentos industrializados, materiais de construção e têxteis devem encarecer para os consumidores venezuelanos, o que pode reduzir drasticamente o volume de negócios.
Enquanto isso, empresas de Roraima correm o risco de cancelar contratos, demitir funcionários e interromper operações. A dependência econômica do estado em relação ao mercado vizinho agrava o cenário — e evidencia a fragilidade da política comercial brasileira na região.
Governo federal promete investigar, mas reação é lenta
Em nota, o governo federal afirmou que está apurando os fatos por meio da embaixada em Caracas. O Itamaraty e o MDIC também informaram que estão em contato com autoridades venezuelanas e com representantes da Fier. No entanto, ainda não há prazo para uma solução concreta — o que aumenta a pressão sobre Brasília.
Especialistas em comércio internacional alertam que o Brasil precisa agir rapidamente para evitar a escalada da crise. A legitimidade dos certificados de origem emitidos pelo Brasil dentro do Mercosul precisa ser reconhecida e respeitada. Caso contrário, abre-se um perigoso precedente para novos embargos regionais.
Resumo do impacto:
- Tarifas de até 77%: Venezuela passa a taxar produtos brasileiros com base em suposto descumprimento de regras do Mercosul.
- Roraima em risco: Estado depende economicamente da exportação para o país vizinho e já sente os efeitos.
- Crise geopolítica: Governo Lula vê seus aliados ideológicos adotarem medidas semelhantes às de Trump, enfraquecendo discurso de integração regional.