
- BP revelou sua maior descoberta global desde 1999, localizada a 400 km da costa fluminense;
- O campo de Bumerangue tem área cinco vezes maior que Manhattan e está sob regime de partilha;
- Viabilidade econômica dependerá do custo de extração e da proporção de CO₂ misturado ao óleo.
A britânica BP anunciou nesta segunda-feira (4) a maior descoberta de petróleo e gás de sua história recente e ela está no Brasil. Trata-se do campo de Bumerangue, localizado na Bacia de Santos, a cerca de 400 km do litoral do Rio de Janeiro. Com mais de 300 km², a área explorada equivale a cinco vezes o tamanho de Manhattan.
Segundo a petroleira, trata-se da maior descoberta feita pela empresa desde 1999, superando inclusive o campo de Shah Deniz, no Mar Cáspio. A confirmação representa um marco importante não apenas para a estratégia global da BP, mas também para a retomada do interesse internacional pelo pré-sal brasileiro.
Campo pode redesenhar presença da BP no pré-sal
A empresa detém 100% dos direitos de exploração do bloco, arrematado no leilão de 2022 promovido pela Agência Nacional do Petróleo (ANP). Na ocasião, o campo foi ofertado dentro do 1º Ciclo da Oferta Permanente sob o regime de Partilha de Produção. Isso significa que parte do petróleo excedente, chamado de lucro-óleo, será obrigatoriamente destinado à União.
A BP venceu sozinha a disputa e se comprometeu a entregar 5,9% do lucro-óleo ao governo brasileiro. Embora o percentual seja modesto, o potencial do campo é tratado com grande otimismo dentro da companhia, conforme relatou o vice-presidente executivo Gordon Birrell. “Estamos empolgados em anunciar esta descoberta significativa”, declarou.
Especialistas do setor consideram o retorno da BP ao pré-sal como um movimento estratégico importante. Desde o vazamento da Deepwater Horizon em 2010, no Golfo do México, a companhia vinha reduzindo sua exposição a projetos de alto risco. O avanço em Bumerangue, portanto, sinaliza uma mudança de postura.
Apesar do entusiasmo, o próprio grupo reconheceu que ainda é cedo para definir o volume ou a qualidade das reservas. A estimativa inicial aponta para uma combinação de gás, condensado e petróleo.
Complexidade técnica desafia cronograma
Um fator que pode dificultar a exploração é a presença elevada de dióxido de carbono no campo. A BP já informou que esse aspecto pode encarecer o projeto, exigindo tecnologias adicionais de separação, reinjeção ou descarte do CO₂, o que afeta diretamente a viabilidade econômica.
Além disso, o ciclo médio para colocar um campo do pré-sal em produção costuma variar entre quatro e dez anos. Ou seja, mesmo em caso de viabilidade confirmada, o petróleo do Bumerangue ainda levará tempo para ser comercializado em larga escala.
Outro ponto relevante é o modelo de partilha. Por depender do repasse de parte dos lucros à União, a estrutura contratual pode influenciar a rentabilidade final do projeto, especialmente em ambientes de margens apertadas.
Ainda assim, o campo coloca o Brasil de volta ao centro da estratégia de crescimento da BP, que havia reduzido sua presença no país em ciclos anteriores de baixa nos preços do barril e forte pressão ambiental.
Pressão por resultados e rumores de fusão com Shell
A descoberta acontece na véspera da divulgação do balanço da BP referente ao segundo trimestre. A empresa tem enfrentado críticas e cobranças de seus acionistas, em especial do fundo Elliott Management, conhecido por exigir mudanças radicais nas companhias em que investe.
Além disso, o anúncio coincide com a recente nomeação de Albert Manifold como presidente do Conselho de Administração. O executivo irlandês terá o desafio de liderar a empresa em meio a especulações de fusão com a rival Shell, hipótese ainda não confirmada oficialmente, mas que circula nos bastidores da indústria.
A nova descoberta, portanto, oferece à BP um ativo estratégico em um momento em que sua governança e direção estratégica estão sob intensa vigilância do mercado.