
- Investidores sacaram R$ 9,6 bilhões em 2025, na pior captação desde o início da série histórica em 2006.
- Alta do IOF e retornos abaixo do esperado geraram desconfiança e fuga de recursos dos fundos VGBL.
- Expectativa de recuperação depende da Selic e de estabilidade regulatória, mas investidores já buscam alternativas.
O primeiro semestre de 2025 foi desastroso para os fundos de previdência privada no Brasil. Assim, investidores retiraram R$ 9,6 bilhões, segundo a Anbima, marcando o pior resultado da série histórica iniciada em 2006. Essa fuga massiva ocorre em um momento em que os retornos decepcionam e a insegurança tributária se intensifica.
Nesse sentido, a principal preocupação veio com a proposta do governo Lula de aplicar uma nova alíquota de IOF sobre aportes em VGBL. Assim, mesmo após ajustes e recuos, o estrago já estava feito. Logo, a medida travou o mercado, aumentou a percepção de risco e levou seguradoras a congelarem captações, acelerando a saída de recursos.
Retornos abaixo do CDI frustram aplicadores
Apesar da taxa Selic estar em 15% ao ano, cerca de 84% dos fundos de previdência renderam abaixo de 7% no semestre. O dado, compilado por Einar Rivero, mostra que milhares de produtos não conseguiram acompanhar nem o CDI, que fechou o período em 6,4%. Para investidores de longo prazo, essa frustração pesou mais que o cenário de juros elevados.
Além disso, entre os mais populares, os fundos Multimercado Livre tiveram retorno mediano de 6,9%. Já os de Renda Fixa Duração Alta Crédito Livre entregaram 7,1%. Na ponta oposta, fundos de Ações Ativo se destacaram com 23% — mas representam uma minoria da indústria.
Davi Ramos, educador financeiro da Vante Invest, explica que a falta de atratividade combinada à alta da Selic desmotivou aportes:
“O investidor comparou o desempenho dos fundos com outras opções mais simples e seguras, como o Tesouro Direto, e decidiu sair. Além disso, as incertezas fiscais só pioraram a percepção.”
IOF derruba confiança e trava a indústria
A proposta inicial do governo previa 5% de IOF sobre qualquer aporte acima de R$ 50 mil por mês nos planos VGBL. Após resistência do Congresso e de parte do mercado, o STF validou a medida, mas com novos limites: 5% somente sobre aportes anuais acima de R$ 300 mil em 2025 e R$ 600 mil em 2026.
Ademais, mesmo com a flexibilização, a sinalização negativa permaneceu. “A indústria de previdência depende de previsibilidade e confiança. O que se viu foi o oposto: ruído, insegurança e retração”, afirma Ramos. A mudança levou investidores a suspenderem aportes ou migrarem para alternativas menos impactadas tributariamente.
Desse modo, para Gustavo Cruz, estrategista da RB Investimentos, ainda restam dúvidas técnicas. “Não está claro se o imposto será recolhido pela corretora ou pelo cliente. Enquanto isso não se resolve, o mercado continua travado”, alerta.
O que esperar do segundo semestre
Apesar do impacto inicial, há espaço para recuperação. A nova regra atinge um grupo menor de investidores, o que pode aliviar parte da pressão. No entanto, o setor depende de fatores externos, como a queda dos juros e maior clareza regulatória.
Além disso, Willian Andrade, sócio da Kaya Asset, observa uma migração para ativos como FIDCs, legal claims e distressed real estate, que oferecem maior retorno líquido e menos interferência tributária. Ele recomenda que o investidor avalie a estrutura de custos e a estratégia dos fundos antes de retornar à previdência.
Por fim, Ramos reforça que a retomada pode ocorrer em ondas, começando por gestores mais eficientes. “A decisão do STF não muda a mecânica dos fundos, mas afeta a confiança. Só com estabilidade e previsibilidade o mercado voltará a crescer”, conclui.