
- Stuhlberger considera a medida um reflexo da visão punitiva e intervencionista do PT
- Investidores apostam em vitória da oposição e veem em Tarcísio um possível “Milei brasileiro”
- Ele prevê mais gastos eleitoreiros e pouca chance de reversão das medidas no Congresso
Luis Stuhlberger, fundador da Verde Asset e um dos gestores mais influentes do mercado financeiro brasileiro, usou palavras duras para classificar o aumento das alíquotas do IOF implementado pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad.
Durante sua esperada apresentação no evento anual da gestora em São Paulo, o gestor afirmou que a medida revela, de forma clara e inquietante, a visão que o Partido dos Trabalhadores tem sobre a sociedade e o mercado.
“É assustador ver o que o PT pensa da gente”, disse Stuhlberger diante de uma plateia atenta, referindo-se ao novo encargo sobre operações financeiras internacionais.
Para ele, o governo trata os cidadãos e investidores como culpados por buscar proteção ou alternativas no exterior.
“Quer comprar dólar? Paga um pedágio para mim. É scary [assustador]”, declarou.
Mentalidade intervencionista
Segundo o gestor, o movimento reflete uma mentalidade intervencionista e punitiva, que pode ganhar força em um eventual novo governo petista a partir de 2026.
Embora o mercado financeiro não tenha reagido de forma intensa ao anúncio, Stuhlberger acredita que isso ocorre porque muitos investidores ainda apostam que o PT não vencerá as próximas eleições.
“A Faria Lima acha que o PT não vai ganhar”, avaliou. Ele mencionou que há uma crescente expectativa de que uma vitória de Tarcísio de Freitas — atual governador de São Paulo e potencial presidenciável — possa reverter o atual descontrole fiscal e restabelecer a confiança nos ativos brasileiros.
“Se o Milei conseguiu, o Tarcísio consegue. É o que dizem”, comentou, sugerindo que a perspectiva de mudança segura o pessimismo.
Stuhlberger foi cético quanto à capacidade do Congresso de barrar o aumento de impostos.
“Nunca barram nada. Quero ver se isso acontece mesmo ou se apenas vai aumentar o preço do Centrão”, ironizou.
Para ele, as soluções reais para a estabilidade fiscal passariam pelo resgate de práticas de responsabilidade como o teto de gastos, vigente nos governos Temer e Bolsonaro. Com juros reais mais baixos, entre 3% e 4%, ele acredita que o dólar poderia recuar para a faixa de R$ 4,70.
O gestor também relacionou a recente valorização de ações do setor de utilities ao chamado “trade eleitoral”, que se intensificou a partir de abril, quando pesquisas apontaram queda na popularidade do presidente Lula. Contudo, ele ponderou que a continuidade dessa tendência depende de uma redução nas taxas de juros reais.
No entanto, algo que não deve ocorrer sem uma mudança estrutural nas contas públicas.
“A partir de agora, para a Bolsa melhorar, a NTN-B precisa cair”, afirmou.
Pedra no caminho
Portanto, a grande pedra no caminho segue sendo a política fiscal. Para Stuhlberger, o governo atual parece desesperado por receitas. E, ainda, a tendência é que 2026 seja um ano marcado por mais populismo e elevação de gastos.
Medidas como o reajuste do Bolsa Família e a proposta de isenção do Imposto de Renda para quem ganha até R$ 5 mil apontam, segundo ele, para um modelo de governo que se assemelha ao que Donald Trump tenta implantar nos Estados Unidos.
“A lei de Trump dá isenção até para gorjetas. É digno do Lula”, ironizou.
Ao final, o gestor dedicou parte significativa da apresentação ao debate sobre diversificação internacional. Diante da fragilidade fiscal brasileira e da crescente instabilidade política, ele questionou se ainda vale a pena manter exposição concentrada nos Estados Unidos. Ou, se chegou o momento de olhar para outros mercados.
Mais do que números e gráficos, Stuhlberger ofereceu uma aula sobre o impacto da política econômica na confiança dos investidores. E, deixou claro que, na sua visão, o Brasil caminha perigosamente rumo a um ciclo vicioso de impostos, populismo e descrédito.