À 1h55 do último domingo (29), o Impostômetro, painel da Associação Comercial de São Paulo (ACSP), registrou a marca inédita de R$3,6 trilhões. Este valor reflete a soma de impostos, taxas e contribuições pagos pelos brasileiros desde o início do ano, abrangendo as esferas federal, estadual e municipal, além de multas e correções monetárias.
O crescimento foi significativo, com um aumento de 18,4% em relação ao valor registrado no mesmo período de 2023, que havia sido de R$3,04 trilhões. Essa alta tem sido atribuída, entre outros fatores, ao aumento da carga tributária e à alta da inflação, que impactaram diretamente os valores arrecadados. O dado também reflete o esforço do governo em manter o equilíbrio fiscal, mas coloca em pauta a discussão sobre o peso dos tributos para os brasileiros.
De acordo com o economista e presidente da ACSP em entrevista ao portal CNN, Marcel Solimeo, o aumento expressivo dos impostos pagos reflete a pressão que a população tem enfrentado ao longo do ano. “Esse crescimento se deve, em grande parte, à inflação e ao aumento das alíquotas. Apesar de ser um indicador importante, também é um reflexo da elevada carga tributária que os brasileiros enfrentam”, afirmou Solimeo.
Além disso, o Impostômetro serve como um termômetro da economia, já que acompanha a arrecadação de tributos em tempo real. O painel da ACSP é um alerta para a sociedade sobre o impacto dos impostos no orçamento dos brasileiros e sua capacidade de contribuir para o financiamento das políticas públicas do país.
O valor alcançado pelo Impostômetro é um reflexo da alta do custo de vida e do impacto do sistema tributário sobre a população, chamando a atenção para a necessidade de um debate sobre a reforma tributária no Brasil.
Perspectivas fiscais para 2024 e 2025:
O Ministério da Fazenda divulgou ainda em dezembro, a atualização do Prisma Fiscal de dezembro, relatório que acompanha as expectativas dos economistas sobre as finanças públicas do Brasil. Embora o cenário de incertezas fiscais continue, as variações no resultado primário para 2024 e 2025 indicam uma leve melhora, trazendo certo alívio aos analistas.
O déficit primário para 2024 foi revisado para R$55,4 bilhões, representando uma redução em relação à projeção anterior de R$ 62 bilhões. Para 2025, o valor do déficit também foi ajustado, de R$89,6 bilhões para R$87,3 bilhões. Essas alterações mostram o esforço do governo em controlar as finanças, apesar do ambiente de baixo crescimento econômico e juros elevados.
Porém, o grande desafio continua sendo o avanço da dívida pública, que deve alcançar 78,4% do PIB em 2024, mantendo-se no mesmo nível projetado em novembro. Para 2025, a projeção subiu ligeiramente para 82% do PIB. A elevada taxa de juros de 12,25% agrava o custo de financiamento da dívida, criando um ciclo difícil de ser quebrado.
A despeito da revisão positiva nas projeções de arrecadação, com estimativas de receita de R$2.655 trilhões para 2024, o aumento das despesas públicas continua preocupando. Em 2024, os gastos do governo central foram elevados para R$ 2.213 trilhões, e mesmo com um ajuste leve para 2025, a expectativa de crescimento dos custos públicos segue elevada.
Déficit de 0,50% do PIB em 2024: Expectativas para os próximos anos
Com o ano de 2024 chegando ao fim, os analistas consultados pelo Banco Central revisaram suas estimativas para a inflação, câmbio e crescimento econômico, conforme divulgado no Boletim Focus. Para este ano, os especialistas projetam um déficit fiscal de 0,50% do PIB, refletindo a manutenção das dificuldades fiscais no país, apesar das pequenas variações nas previsões de inflação e crescimento.
A inflação para 2024 apresentou uma leve redução em relação à semana anterior, passando de 4,91% para 4,90%, enquanto as projeções para os anos seguintes foram revistas para cima. Para 2025, o IPCA deve atingir 4,96%, superior aos 4,84% estimados anteriormente. As previsões para 2026 e 2027 também foram ajustadas, com estimativas de inflação de 4,01% e 3,83%, respectivamente.
O crescimento do PIB em 2024 foi mantido em 3,49%, mas para 2025, a expectativa foi reduzida de 2,02% para 2,01%. Em 2026, a previsão é de um crescimento de 1,80%, revisada para baixo, enquanto para 2027, os analistas projetam um avanço de 2%, mantendo-se inalterado.
Quanto ao câmbio, a moeda americana deve terminar o ano de 2024 cotada a R$6,05, com uma leve alta de 0,05 centavos em relação à previsão anterior. Para os próximos anos, os analistas estimam que o dólar se manterá acima de R$5,80 até 2027, com previsões para 2025, 2026 e 2027 de R$5,96, R$5,90 e R$5,80, respectivamente.
A taxa Selic, por sua vez, permanece em 14,75% para 2025, com projeções de redução para 2026, chegando a 12%, e de 10% para 2027. Essas expectativas, com ênfase nas variações fiscais e monetárias, reforçam o cenário de desafios fiscais e econômicos para o Brasil nos próximos anos.
Gastos com seguro-desemprego sobem 11% em ano de pleno emprego
Em um cenário de pleno emprego, com a taxa de desemprego caindo para 6,4% em setembro, os gastos do governo federal com seguro-desemprego estão em alta. Entre os meses de agosto de 2023 e 2024, as despesas somaram R$52 bilhões, marcando um aumento de 11% em relação ao ano anterior, já descontada a inflação. A disparidade entre a redução da taxa de desemprego e o aumento dos pedidos de seguro-desemprego gerou questionamentos sobre a eficácia das regras atuais.
Os especialistas apontam que o seguro-desemprego no Brasil é “pró-cíclico”, ou seja, aumenta em momentos de crescimento econômico, ao contrário da teoria, que sugere um comportamento “anticíclico” (mais gasto em tempos de crise).
Especialistas indicam que o aumento nos pedidos de seguro-desemprego pode estar relacionado à facilidade com que trabalhadores e empresas fazem acordos para demissão e acesso ao benefício.