
- Argentina mantém superávit pelo sétimo mês consecutivo em meio à crise
- Arrecadação perde força e ameaça a sustentabilidade do ajuste
- Milei usa o déficit zero como vitrine política e arrisca desgaste social
A Argentina registrou em julho um superávit primário de 1,75 trilhão de pesos, equivalente a US$ 1,27 bilhão, alcançando o sétimo mês consecutivo de saldo positivo nas contas públicas. O dado foi divulgado pelo Ministério da Economia nesta segunda-feira (18) e reforça a promessa de Javier Milei de manter o “déficit zero” como pilar de sua gestão.
Apesar do resultado primário positivo, o país apresentou déficit financeiro de 168,5 bilhões de pesos no mês, reflexo do pagamento de quase 1,92 trilhão de pesos em juros da dívida. No acumulado de janeiro a julho, a Argentina ainda registra superávit financeiro de 0,3% do PIB.
Superávit com cortes duros
O ministro da Economia, Luis Caputo, afirmou que o superávit primário cresceu 41% em termos reais frente a julho de 2024. O avanço decorre de alta real de 2,8% nas receitas totais e de queda de 1,3% nos gastos primários.
Entre as despesas, os cortes foram expressivos. Investimentos caíram 41,6% em termos reais, a folha de pagamentos encolheu 11,7% e os subsídios energéticos despencaram 50,4%. Em contrapartida, os gastos com pensões subiram 16,7% no período, favorecidos pela desaceleração da inflação.
Caputo também destacou que, mesmo com o ajuste, houve preservação de despesas sociais, que avançaram 5,7% em termos reais. Segundo ele, essa estratégia busca evitar impacto mais profundo sobre as camadas mais vulneráveis da população.
Arrecadação em queda
Analistas do Itaú BBA alertam que o grande desafio do governo está na arrecadação. As receitas totais caíram 5,1% em termos reais no trimestre encerrado em julho, após recuo de 3,8% no trimestre anterior.
A queda é puxada principalmente pela arrecadação de impostos, que recuou 5,7% em termos reais. O setor financeiro, que havia impulsionado a base em 2024, deixou de ser um fator de sustentação, agravando a perda de fôlego.
Com a economia em desaceleração, especialistas projetam maior dificuldade em manter os resultados positivos sem novos cortes de gastos. O ajuste, embora eficaz no curto prazo, pode perder sustentação caso a atividade continue em ritmo fraco.
Perspectivas para 2025
O Itaú BBA mantém projeção de superávit primário de 1,6% do PIB em 2025, alinhada à meta oficial definida pelo governo. O banco ressalta, porém, que a perda de dinamismo nas receitas torna o cenário mais frágil.
Para Milei, o superávit é vital não apenas para garantir estabilidade fiscal, mas também para sustentar sua imagem política diante de um eleitorado dividido.
Por fim, o presidente aposta que o ajuste duríssimo abrirá espaço para recuperação futura, embora o impacto social e o risco político sigam no radar.