
- Eleições legislativas definem o futuro das reformas de Javier Milei e sua aliança com os EUA.
- Peso argentino enfrenta forte pressão, e o país negocia nova linha de crédito de US$ 20 bilhões.
- Governo tenta reconquistar eleitores e garantir apoio no Congresso para evitar bloqueios políticos.
O presidente da Argentina, Javier Milei, enfrenta neste domingo (26) uma eleição legislativa decisiva que determinará se ele conseguirá manter sua agenda econômica liberal e fortalecer a aliança política com os EUA. O pleito é visto como um referendo antecipado sobre seu governo e o futuro do país.
A disputa acontece em um cenário de alta volatilidade no peso, queda de popularidade e crescentes incertezas políticas. Mesmo com o apoio de Donald Trump e promessas de novas linhas de crédito internacionais, Milei tenta conter a pressão cambial e consolidar sua base antes de uma possível reestruturação econômica mais profunda.
Pressão econômica e tensão política
O momento é crítico. Nas últimas semanas, o peso argentino renovou mínimas históricas e os mercados locais reagiram mal às derrotas regionais do partido La Libertad Avanza, especialmente em Buenos Aires, reduto-chave nas eleições. A oposição peronista, reunida na coalizão Fuerza Patria, tenta aproveitar o desgaste de Milei e o descontentamento popular com as medidas de austeridade.
A popularidade do presidente caiu após cortes agressivos em gastos públicos e aumento do desemprego. Escândalos recentes de corrupção envolvendo aliados também pesam sobre a imagem do governo, abrindo espaço para ataques da esquerda. Ainda assim, Milei tenta manter o discurso de ruptura com “a velha política” e aposta no apoio norte-americano como símbolo de estabilidade.
O Banco Central da Argentina assinou um acordo de estabilização cambial de US$ 20 bilhões com o Departamento do Tesouro dos EUA, o que dá fôlego temporário à economia. Além disso, o governo argentino negocia uma linha de crédito adicional do mesmo valor com bancos norte-americanos, sinalizando aproximação estratégica com Washington.
Disputa acirrada no Congresso
Metade da Câmara dos Deputados (127 assentos) e um terço do Senado (24 assentos) estão em disputa. O partido de Milei tem apenas 37 deputados e seis senadores, e precisa ampliar sua base para garantir governabilidade. Pesquisas apontam empate técnico entre o La Libertad Avanza e o bloco peronista, o que pode dificultar a aprovação das reformas estruturais.
Mesmo uma vitória expressiva não daria maioria ao governo, mas 35% dos votos já seriam vistos como avanço político, segundo analistas. Com esse desempenho, Milei ganharia margem para vetar projetos de oposição e negociar pautas econômicas com bancadas independentes.
As províncias de Buenos Aires e Córdoba concentram o maior número de cadeiras e se tornaram o epicentro da disputa. O resultado nessas regiões pode redefinir o equilíbrio de forças e indicar se o governo conseguirá travar o avanço opositor no Legislativo.
Milei entre o apoio externo e a desconfiança interna
Para reverter o desgaste, Milei busca resgatar o apoio de eleitores que o elegeram em 2023, mas que hoje demonstram frustração com a lentidão da recuperação econômica. Apesar da queda da inflação, o crescimento permanece fraco e os cortes fiscais afetam diretamente o consumo e os serviços públicos.
Ademais, a analista Mariel Fornoni, da consultoria Management & Fit, avalia que Milei precisa “reativar os eleitores desencantados” e conquistar o centro político, especialmente os simpatizantes do PRO, partido de centro-direita que tem sido seu principal aliado no Congresso.
Economistas alertam que, após a eleição, o peso argentino pode sofrer nova desvalorização, já que o câmbio está artificialmente controlado desde abril. Portanto, a expectativa é que Milei flexibilize a faixa cambial para evitar distorções maiores, medida que tende a testar a paciência dos investidores e da população.