Crise na argentina

Milei pode sofrer impeachment depois de apoio a criptomoeda

O colapso da criptomoeda $LIBRA, promovida por Javier Milei, desencadeou um escândalo que pode gerar um processo de impeachment e afetar a economia argentina.

Conteúdo oferecido por

Milei
Milei

A política e a economia argentinas vivem um momento de instabilidade sem precedentes. Na última sexta-feira (14), o presidente Javier Milei causou alvoroço ao promover, em suas redes sociais, a criptomoeda $LIBRA. No início, seu preço disparou para quase US$ 5, resultando em uma capitalização de mercado de aproximadamente US$ 107 milhões. No entanto, essa empolgação foi efêmera, pois poucas horas depois, a moeda desabou para menos de US$ 1, causando uma enxurrada de perdas para mais de 40 mil investidores e levando a acusações de fraude e possíveis pedidos de impeachment no Congresso.

De acordo com uma análise do Bradesco BBI, essa situação deteriorante acontece em meio a um clima de alta volatilidade nos mercados financeiros da Argentina, intensificada por tensões comerciais envolvendo Donald Trump, presidente dos EUA. Essa soma de fatores trouxe à tona uma série de preocupações, refletidas na insegurança institucional e no potencial risco que a situação representa para o governo Milei.

Um dos pontos centrais da análise aponta para a fragilidade institucional atual. Segundo os analistas, o episódio ilustra a falta de controles que podem comprometer a confiança do investidor. Essa precariedade pode ser um terreno fértil para uma possível tentativa de impeachment de Milei, a qual está sendo considerada como uma nova narrativa pela oposição, que poderia aproveitar o incidente para buscar suporte contra o presidente.

Além disso, o impacto direto na imagem de Milei é inegável. Estrategistas do Bradesco ressaltam que a percepção pública sobre o presidente pode ser severamente atingida.

“Estaremos alertas a qualquer queda no índice de aprovação do presidente para abaixo de 45% ou uma redução na intenção de voto para La Libertad Avanza abaixo de 30% nas próximas pesquisas para as eleições de meio de mandato do Congresso. Níveis que, se quebrados, podem rearranjar as bases de apoio ao presidente”, observam os especialistas.

A situação se torna ainda mais complicada pelo fato de que as negociações com o FMI podem ser afetadas. O escândalo do $LIBRA complica as discussões sobre financiamento e revela a necessidade de um conjunto de medidas corretivas para restaurar a credibilidade nas instituições financeiras e políticas argentinas.

A falta de investimentos estrangeiros reais também é alarmante. Os analistas do Bradesco comentam que o episódio escancara a necessidade de abrir novos canais para atrair investimentos, o que se tornou uma preocupação crescente tanto nos mercados locais quanto internacionais.

Após o colapso do $LIBRA, o Bradesco BBI previu uma reação negativa imediata dos mercados, embora acreditasse que o plano de estabilização do governo ainda poderia encontrar apoio. A análise levantou, ainda, três cenários sobre a possível participação de Milei neste controverso incidente.

  1. Hacking da conta presidencial: Nesta hipótese, o BBI sugere que a conta de Milei pode ter sido hackeada, permitindo que terceiros promovam o $LIBRA sem o seu consentimento. Essa situação minimizaria a responsabilidade do presidente.
  2. Uso imprudente da figura presidencial: Uma segunda possibilidade é que Milei, por excesso de confiança e falha na verificação de informações, tenha promovido a criptomoeda sem as devidas diligências. Isso indicaria uma falta de cuidado, mas não necessariamente má-fé.
  3. Uso impróprio de informações privilegiadas: A análise também menciona a possibilidade de que Milei tenha compartilhado informações sobre o $LIBRA de maneira inadequada, o que poderia ser visto como uma gestão imprudente de informações sensíveis, e essa situação é considerada mais séria, envolvendo o risco legal.

Por fim, a questão do impeachment se coloca no cenário político. Embora o Congresso da Argentina tenha a capacidade de iniciar um processo de impeachment, a real possibilidade de sucesso é considerada baixa. A Câmara dos Deputados precisaria de uma maioria absoluta de votos (129 de 257), e um subsequente processo no Senado exigiria dois terços dos votos (48 de 72) para remover o presidente.

As reações ao escândalo das criptomoedas foram variadas. Alguns grupos de oposição avançam na ideia de impeachment, defendendo um argumento de abuso de poder, no entanto, outros preferem esperar os resultados das investigações. Há um reconhecimento que remete a precedentes, como as tentativas de remoção de Fernando de la Rúa em 2001 e os processos observados em países vizinhos como Peru e Brasil.

Atualmente, o presidente Milei não detém a maioria no Congresso, mas também seus oponentes não controlam o total. A oposição precisaria unir forças entre diferentes blocos e perfis políticos para avançar com um pedido de impeachment.

Fernando Américo
Fernando Américo
Sou amante de tecnologias e entusiasta de criptomoedas. Trabalhei com mineração de Bitcoin e algumas outras altcoins no Paraguai. Atualmente atuo como Desenvol