
O alerta não veio de analistas ocidentais nem de críticos externos: foi o próprio ministro do Comércio da China, Wang Wentao, quem admitiu que o país enfrenta uma situação “muito grave e complexa”. A declaração foi feita em um momento crítico, com a economia chinesa mostrando sinais evidentes de esgotamento após décadas de crescimento acelerado.
A fala do ministro aconteceu durante uma conferência com representantes do setor privado, incluindo grandes empresas e câmaras de comércio. O tom foi incomum, direto e alarmista, contrastando com o habitual discurso otimista do Partido Comunista.
Investimentos travados e confiança em queda
Apesar de ter sido o motor do crescimento global por anos, a economia chinesa vem perdendo força de maneira preocupante. Segundo Wang, os investimentos privados encolheram drasticamente, afetando especialmente setores como construção civil, tecnologia e manufatura pesada. Ao mesmo tempo, empresários demonstram receio de ampliar suas operações, diante de um ambiente regulatório instável e de uma demanda interna enfraquecida.
O enfraquecimento do consumo interno, somado à crise imobiliária — simbolizada pelo colapso da gigante Evergrande — e ao alto endividamento de governos locais, gera um efeito dominó. O setor privado, que representa mais de 80% dos empregos urbanos, se retrai, afeta a geração de empregos e amplia o pessimismo na sociedade.
Exportações em queda e tensão geopolítica
Outro fator que alimenta o colapso é o declínio nas exportações. As tensões com os Estados Unidos, Europa e Japão, somadas às sanções indiretas por conta da aliança com a Rússia, têm minado o desempenho das vendas externas. O próprio ministro reconheceu que a política externa da China, aliada à instabilidade regulatória, tem afastado investidores estrangeiros.
Wang também ressaltou que a recuperação econômica “ainda enfrenta múltiplas dificuldades e desafios”, especialmente num cenário em que a confiança das empresas está cada vez mais abalada. Analistas internacionais apontam que a China pode estar entrando num ciclo de estagnação semelhante ao que o Japão enfrentou nos anos 1990.
Riscos sistêmicos ameaçam estabilidade
A transparência na fala do ministro escancara os riscos de um colapso sistêmico. A dívida pública chinesa está em níveis recordes, enquanto a inflação segue baixa, sugerindo estagnação. O desemprego entre jovens urbanos já ultrapassa 20%, um dado que o próprio governo deixou de divulgar nos últimos meses, temendo o impacto político.
Diante do cenário, há um temor crescente de que a crise chinesa transborde para o resto do mundo, especialmente para países altamente dependentes do comércio com Pequim — como o Brasil. A desaceleração já afeta o preço de commodities, como minério de ferro e soja, e deve impactar diretamente a balança comercial brasileira nos próximos meses.