O futuro presidente do Banco Central (BC), Gabriel Galípolo, afirmou nesta segunda-feira (2) que a autoridade monetária não pretende intervir de maneira agressiva no mercado de câmbio, apesar do dólar ter atingido a marca histórica de R$ 6,06. Durante um evento promovido pela XP Investimentos, Galípolo destacou que o câmbio flutuante é um dos pilares da política econômica brasileira e que intervenções só ocorrerão em casos de desfuncionalidade do mercado.
Galípolo descartou a possibilidade de uma atuação intervencionista para controlar a taxa de câmbio de maneira artificial.
“Temos US$ 370 bilhões em reservas internacionais, mas não é simplesmente ‘segurar o câmbio no peito’. O câmbio flutuante como vemos hoje é essencial para nossa matriz econômica, permitindo que a economia absorva choques de forma mais eficiente”, explicou.
O dólar apresentou forte alta nos últimos dias, pressionado por fatores externos e domésticos, como as expectativas em torno da reforma tributária e o recente anúncio do governo sobre a possível isenção de Imposto de Renda para quem ganha até R$ 5.000.
Inflação e meta: “Página virada”
Galípolo também abordou a meta de inflação, que é de 3% ao ano, afirmando que não considera o tema uma questão aberta para debate. “A meta é definida e seguimos com ela. Essa discussão não cabe ao BC, é uma página virada”, declarou.
Apesar disso, o Boletim Focus, divulgado semanalmente pelo BC, aponta que o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) deve fechar o ano em 4,71%, um leve aumento em relação à projeção da semana anterior, que era de 4,63%.
Juros altos por mais tempo
No evento, Galípolo destacou que a política monetária continuará restritiva devido ao cenário econômico atual. Com a Selic em 11,25% ao ano, ele sinalizou que a taxa pode permanecer elevada por um período prolongado. “É um momento desafiador para a economia, com desemprego em mínimas históricas e dinâmica econômica mais forte do que o esperado. Nesse contexto, é natural que a política monetária siga mais contracionista”, afirmou.
Embora tenha evitado detalhar planos para a próxima reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), marcada para os dias 10 e 11 de dezembro, Galípolo indicou que a decisão será tomada com cautela e alinhada às condições econômicas. Operadores de mercado especulam um possível aumento da Selic entre 0,50 e 0,75 ponto percentual, dependendo das expectativas inflacionárias.
Desafios econômicos e perspectivas
A forte valorização do dólar reflete preocupações com o impacto fiscal das recentes propostas do governo, além de fatores externos, como a política monetária dos Estados Unidos e a desaceleração global.
Para Galípolo, o cenário atual representa um desafio de longo prazo: “Ter juros altos em um ambiente de pleno emprego é algo que não se resolve em uma ou duas reuniões do Copom. É um desafio para uma geração”.
Com o câmbio flutuante mantido como âncora da política econômica e uma postura conservadora na política monetária, o Banco Central busca equilibrar as pressões inflacionárias e preservar a estabilidade macroeconômica, mesmo em um ambiente de alta volatilidade no mercado de câmbio e expectativas fiscais ainda incertas.
Enquanto isso, os investidores e o mercado aguardam os próximos passos da autoridade monetária, atentos à última decisão de política monetária do ano, que poderá influenciar as projeções econômicas para 2025.