
- Dólar subiu cerca de 2% em julho com impacto direto das tarifas americanas, que pressionaram o real.
- Decisão do STF sobre o IOF e ruídos políticos internos elevaram ainda mais a instabilidade cambial.
- Para agosto, analistas projetam volatilidade persistente, dependendo de negociações entre Brasil e EUA.
O mês de julho marcou um ponto de virada no mercado cambial brasileiro. Após meses de relativa estabilidade, o dólar voltou a subir frente ao real, encerrando o período com valorização expressiva e elevando a incerteza para agosto. Analistas atribuem esse movimento tanto a fatores externos quanto a turbulências internas, com destaque para as tarifas comerciais impostas pelos Estados Unidos.
De acordo com Lucas Tavares, especialista em câmbio da WIT Exchange, a moeda brasileira perdeu cerca de 2% em julho, reflexo direto da nova alíquota de 50% aplicada por Donald Trump sobre exportações brasileiras. A decisão causou aversão ao risco e desencadeou uma onda de pressão sobre o real, que chegou a recuar 16 centavos em apenas um dia após o anúncio.
Tarifas de Trump aceleram fuga para o dólar
A medida tarifária do governo dos EUA atingiu em cheio o sentimento do mercado. Ao elevar o custo de exportações brasileiras, os Estados Unidos minaram as perspectivas de entrada de dólares via comércio exterior. Essa retração comercial, segundo especialistas, enfraquece o real e aumenta a percepção de risco para investidores estrangeiros.
O impacto foi imediato. Entre os dias 9 e 10 de julho, o dólar disparou e o real teve sua maior desvalorização em meses. Mesmo após o choque inicial, a moeda americana permaneceu em patamar elevado durante todo o mês. A instabilidade cambial também foi alimentada por declarações do próprio presidente americano, que justificou as tarifas como reação à “perseguição” ao ex-presidente Jair Bolsonaro.
Além disso, a decisão judicial que colocou Bolsonaro em prisão domiciliar elevou as tensões entre Brasília e Washington, adicionando combustível à crise diplomática. O mercado leu esse cenário como uma combinação explosiva entre risco político e conflito comercial, o que só reforçou a busca por proteção em dólar.
Política interna agrava instabilidade cambial
O cenário doméstico também contribuiu para a desvalorização do real. A principal preocupação recai sobre a política fiscal do governo federal e o aumento das alíquotas do IOF. O STF aprovou a medida, que encareceu as operações de câmbio, desestimulou a entrada de recursos externos e ampliou a incerteza no mercado.
Segundo Tavares, a decisão do Copom de manter a Selic em 15% foi esperada, mas teve pouco efeito na contenção da fuga de capital. O comunicado da autoridade monetária indicou prudência diante do novo contexto internacional e sugeriu que eventuais cortes nos juros devem ser avaliados com cautela. Assim, o ambiente doméstico segue pressionado tanto pelo lado fiscal quanto monetário.
Além disso, o impasse político no Congresso e a ausência de respostas claras do governo diante da crise tarifária contribuem para ampliar a aversão ao risco. Para muitos investidores, a falta de previsibilidade reforça a sensação de fragilidade institucional e limita o apetite por ativos brasileiros.
Projeções indicam volatilidade no curto prazo
Para o mês de agosto, a tendência é de manutenção da volatilidade no mercado cambial. A principal variável será o desenrolar das negociações com os Estados Unidos. Caso não haja acordo, o real poderá continuar em trajetória de desvalorização, com o dólar rondando níveis ainda mais altos.
Além disso, o simpósio de Jackson Hole e os dados econômicos dos EUA especialmente sobre inflação e emprego, devem influenciar o comportamento do dólar global. No Brasil, os dados da balança comercial, o Relatório de Inflação e a prévia da inflação também estarão no radar de analistas e investidores.
Ademais, Tavares explica que o impacto das tarifas tende a se prolongar no médio prazo. Mesmo que o Brasil consiga redirecionar parte das exportações para outros mercados, o efeito sobre a entrada de dólares será perceptível. A menor demanda externa pode reduzir receitas e pressionar ainda mais o câmbio.
Diante desse cenário, especialistas recomendam cautela e atenção redobrada a variáveis externas e decisões do governo. Por fim, a combinação de risco político, juros elevados e guerra tarifária mantém o real sob pressão e a volatilidade cambial deve continuar sendo a regra, não a exceção.