Setor energético

Novo recorde da Petrobras esconde crise prestes a explodir no mercado de gás

ANP comemora avanço histórico na produção, enquanto mercado alerta para riscos da proposta de liberalização do GLP e impacto de subsídios bilionários.

Crédito: Depositphotos
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  • Produção de petróleo alcança 3,757 milhões de barris por dia em junho.
  • Reforma da ANP no setor de gás preocupa por riscos à segurança e investimentos.
  • Programa “Gás para Todos” pode custar bilhões e desequilibrar o setor.

O Brasil registrou em junho de 2025 a maior produção de petróleo de sua história, alcançando 3,757 milhões de barris por dia, segundo a ANP. O número representa alta de 2,1% em relação a maio e 10,1% na comparação anual, impulsionado por novas plataformas da Petrobras em Mero e Búzios.

Nesse sentido, apesar do avanço histórico, o setor energético vive um momento de tensão. A mesma ANP que celebra o recorde também propõe mudanças profundas no mercado de GLP, o gás de cozinha. Analistas e investidores avaliam que a reforma pode comprometer a segurança, derrubar margens e afastar investimentos.

Recorde de petróleo e gás reforça protagonismo energético

A produção total da Petrobras como consorciada, incluindo gás natural, chegou a 3 milhões de barris de óleo equivalente por dia em junho. No mesmo período de 2024, o volume atingiu 2,78 milhões. A alta se deve, principalmente, ao início da operação do FPSO Alexandre de Gusmão e ao avanço do FPSO Almirante Tamandaré.

Além do petróleo, o Brasil também bateu recorde na produção de gás natural. Foram 181,6 milhões de metros cúbicos por dia, o maior volume já registrado. Então, em relação a maio, o crescimento foi de 5,4%, enquanto na comparação anual, a alta foi de expressivos 20,9%.

No entanto, nem todo esse volume chega ao mercado. As empresas comercializaram apenas 61,7 milhões de metros cúbicos por dia. Logo, a maior parte do gás foi reinjetada nos poços ou utilizada nas próprias plataformas. Uma parcela também foi queimada durante o processo.

Reforma do GLP preocupa especialistas e analistas

Paralelamente aos dados positivos de produção, a proposta da ANP para reformar o setor de GLP preocupa o mercado. A agência quer flexibilizar o envase de botijões, permitindo enchimento fracionado e a recarga de botijões com marcas diferentes. O BTG Pactual avalia que essas medidas fragilizam protocolos de segurança consolidados.

Ademais, segundo relatório do banco, as mudanças podem facilitar práticas irregulares, elevar o risco de acidentes e reduzir a rastreabilidade dos cilindros. Além disso, há preocupação com o impacto sobre as margens das empresas e a sustentabilidade do modelo atual, considerado eficiente e seguro.

Desse modo, o setor de GLP opera com estruturas que exigem capital intensivo. Um novo participante que queira conquistar apenas 1% do mercado precisaria investir cerca de R$ 350 milhões, segundo a própria ANP. Por isso, o BTG alerta que as alterações previstas devem desestimular novos investimentos.

Subsídios ampliam incerteza e risco financeiro

A reforma da ANP ocorre em paralelo a outra frente do governo: a expansão do programa “Gás para Todos”. A proposta pretende oferecer botijões de forma gratuita a 17 milhões de famílias, triplicando o número atual de beneficiados. Isso exigirá bilhões de reais em subsídios.

Além disso, para o BTG, as duas medidas combinadas, reforma do setor e subsídio ampliado, representam uma ameaça à estabilidade do mercado. Sem estímulos claros às distribuidoras, como renovação de frota ou expansão da rede, o modelo tende a se deteriorar.

Além disso, o banco aponta que os altos retornos atuais no GLP são resultado de décadas de investimentos em infraestrutura. Portanto, esses retornos podem desaparecer diante da pressão por preços mais baixos e do aumento de exigências operacionais sem compensação financeira.

Luiz Fernando

Licenciado em Letras e Graduando em Jornalismo pela UFOP; Atua como redator realizando a cobertura sobre política, economia, empresas e investimentos.

Licenciado em Letras e Graduando em Jornalismo pela UFOP; Atua como redator realizando a cobertura sobre política, economia, empresas e investimentos.