Crédito rural

O que está por trás da onda de calotes que assusta os maiores bancos do país

Setor rural vive alta de recuperações judiciais e efeito de nova regra contábil, elevando risco no crédito agrícola.

inadimplencia
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  • Inadimplência no agro disparou para 3,94% no Banco do Brasil, maior nível desde 2023
  • Recuperações judiciais crescem mais de 40% em um ano e pressionam produtores e bancos
  • Governo lança Plano Safra abaixo da inflação, enquanto instituições reforçam cobranças e exigem garantias

O agronegócio brasileiro enfrenta um salto da inadimplência em 2025, mesmo com projeções de safra recorde de milho e soja. A disparada preocupa bancos, que veem avanço das recuperações judiciais e maior pressão regulatória.

Segundo dados recentes, a taxa de calotes no Banco do Brasil atingiu 3,94%, o maior nível desde 2023, com concentração nas regiões Centro-Oeste e Sul e foco em soja, milho e bovinos.

Pressão sobre o Banco do Brasil

O BB, com quase metade do mercado de crédito rural, é o mais impactado pela crise. A carteira de R$ 404,9 bilhões tem cerca de 20 mil clientes inadimplentes, 74% deles sem histórico de calote antes de 2023.

O avanço está ligado à queda das commodities, à alavancagem dos produtores e às regras mais rígidas do Banco Central, que introduziram o conceito de perda esperada no provisionamento.

Além disso, 808 clientes estão em recuperação judicial, somando R$ 5,4 bilhões em dívidas. O banco acusa escritórios de advocacia de incentivar pedidos abusivos e avalia ações judiciais contra o que chama de “litigância predatória”.

Escalada de recuperações judiciais

A decisão do STF em 2020, que equiparou grandes produtores rurais a empresas, abriu caminho para pedidos de RJ na pessoa física. Desde então, o movimento tem se intensificado.

Dados da Serasa Experian mostram que os pedidos no agro chegaram a 389 no primeiro trimestre de 2025, alta de 21,5% frente ao período anterior e de 44,6% na comparação anual.

Com custos elevados, prazos longos de recebimento e mais exigências de garantias, muitos produtores têm recorrido à Justiça para renegociar dívidas, pressionando ainda mais o sistema bancário.

Reação dos bancos privados

O Santander, que possui R$ 22,4 bilhões em crédito rural, afirmou que a inadimplência ainda terá trimestres desafiadores. No Itaú, com carteira de R$ 130 bilhões, a situação é considerada controlada devido à diversificação de culturas e garantias mais robustas.

O Bradesco também vê risco moderado, destacando que não expande crédito em culturas com maior vulnerabilidade. Para o banco, a competitividade do agro brasileiro ainda garante segurança de longo prazo.

Já o Sicredi reconhece aumento da inadimplência em diferentes regiões, reforçando a necessidade de gestão ativa e diferenciada de acordo com o perfil de cada produtor.

Perspectivas e medidas

O governo anunciou o Plano Safra 25/26 em R$ 594,4 bilhões, alta de apenas 1,69% sobre a safra anterior, com correção abaixo da inflação. Analistas alertam que juros altos e menos subsídios agravam o endividamento.

Enquanto isso, o Banco do Brasil adota medidas mais rígidas para conter calotes, como troca de garantias por alienação fiduciária e intensificação de cobranças judiciais.

A instituição afirma que, no passado, evitava executar garantias para manter boas relações com clientes, mas agora adota postura mais firme diante da escalada de inadimplência.

Luiz Fernando

Licenciado em Letras e Graduando em Jornalismo pela UFOP; Atua como redator realizando a cobertura sobre política, economia, empresas e investimentos.

Licenciado em Letras e Graduando em Jornalismo pela UFOP; Atua como redator realizando a cobertura sobre política, economia, empresas e investimentos.