
O Itamaraty impôs sigilo de cinco anos sobre dois telegramas da embaixada brasileira em Washington que mencionam a JBS (JBSS3) e os irmãos Joesley Batista e Wesley Batista, controladores do grupo.
Os documentos, classificados como “reservados”, tratam de investimentos de empresas brasileiras nos Estados Unidos e de relações econômicas bilaterais. A decisão foi assinada por um diplomata em Brasília e reforçou suspeitas de que o governo quer manter ocultos detalhes das tratativas envolvendo o conglomerado.
Telegramas secretos e o envolvimento da JBS
De acordo com informações obtidas pela Folha de S.Paulo, o primeiro telegrama, datado de 14 de julho, traz “análise sobre investimentos de empresas brasileiras nos EUA”. Já o segundo, de 31 de julho, é descrito como “relato sobre comissão temporária para interlocução sobre as relações econômicas com os EUA”.
Ambos foram reclassificados para o nível “reservado” pelo diplomata Kassius da Silva Pontes, lotado em Brasília. A justificativa oficial é a necessidade de “proteger interesses do Estado brasileiro”.
O sigilo, contudo, ocorre justamente após o avanço de acordos comerciais bilaterais e de movimentações diplomáticas que envolvem a expansão internacional da JBS, o que reacende o debate sobre transparência em negócios com apoio político.
“Campeões nacionais”: a reaproximação de Lula com irmãos Batista
A imposição de sigilo impede que os documentos sejam acessados via Lei de Acesso à Informação (LAI) por até cinco anos, prorrogáveis. Na prática, a medida retira do público qualquer conhecimento sobre o teor das conversas entre diplomatas e representantes da empresa.
Fontes ligadas ao corpo diplomático avaliam que o conteúdo pode envolver discussões estratégicas sobre tarifas de importação, lobby corporativo ou tratamento diferenciado a multinacionais brasileiras nos EUA.
O caso também surge em meio à reaproximação política do governo Lula com grandes conglomerados, reacendendo memórias da antiga política dos “campeões nacionais”, na qual a JBS foi um dos principais símbolos.
Impactos e questionamentos
O episódio traz riscos à imagem institucional do Itamaraty, que há anos defende a transparência administrativa. Também gera inquietação entre investidores e observadores do mercado internacional, que veem na medida um possível indício de interferência política em relações empresariais.
Além disso, a falta de acesso público aos telegramas impede a sociedade de compreender como o governo negocia interesses privados dentro da diplomacia econômica. Críticos apontam que a decisão afeta a credibilidade das políticas externas e reforça o distanciamento entre Estado e controle social.
Enquanto isso, a JBS (JBSS3) segue ampliando sua presença global, inclusive com novas aquisições nos EUA — e o conteúdo desses telegramas poderia lançar luz sobre como essa expansão é tratada pelo governo brasileiro.
Principais pontos:
- Itamaraty impôs sigilo de cinco anos a telegramas que mencionam a JBS e os irmãos Batista.
- Documentos tratam de relações econômicas e investimentos brasileiros nos EUA.
- Decisão levanta suspeitas de favorecimento e falta de transparência na diplomacia econômica.