Nova potência?

O Vale Silício da América Latina: Paraguai faz Brasil comer poeira e atrai cada vez mais investimentos

Impulsionado por energia 100% limpa e barata, o país aposta em tecnologia, juventude e incentivos fiscais para atrair gigantes como Google e OpenAI.

Paraguai
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  • Energia 100% hidrelétrica e baixo custo são as bases do novo polo digital.
  • Governo investe US$ 20 milhões no Parque Tecnológico de Assunção.
  • Iniciativas como Girls Code formam talentos e reduzem a desigualdade de gênero no setor.

O Paraguai está prestes a dar um salto histórico. Com eletricidade abundante, mão de obra jovem e custos baixos, o país quer se tornar o novo polo tecnológico da América do Sul. A missão está nas mãos de Gabriela Cibils, empreendedora formada em Berkeley, que trocou o Vale do Silício pela capital Assunção.

Ela lidera um movimento que busca transformar o pequeno país de 7 milhões de habitantes em uma potência digital regional. “Depois de viver o impacto da tecnologia nos Estados Unidos, senti que era minha responsabilidade trazer essa mentalidade para cá”, diz Cibils.

Energia verde e barata: o diferencial que atrai gigantes

A principal aposta do governo é a energia hidrelétrica, que garante 100% de geração limpa. A Itaipu Binacional, maior usina do mundo fora da China, responde por 90% da demanda interna e ainda exporta o excedente ao Brasil.

Assim, com tarifas entre as mais baixas da América do Sul, o Paraguai tornou-se o maior exportador mundial de energia limpa, vantagem estratégica para empresas que buscam data centers e operações de IA sustentáveis.

“Quem quer instalar centros de dados precisa de energia estável e renovável”, explica o desenvolvedor Sebastián Ortiz-Chamorro. Desse modo, segundo ele, a hidrelétrica supera fontes como solar e eólica em confiabilidade e previsibilidade, fatores decisivos para atrair grandes players globais.

Governo quer um polo tecnológico bilionário

O presidente Santiago Peña e o ministro de Tecnologia, Gustavo Villate, apresentaram em 2024 o projeto do Parque Digital de Assunção, orçado em US$ 20 milhões na primeira fase. O espaço, ainda em construção, terá lagos, campus universitário e centro de inovação, com parceria entre Taiwan e o Paraguai.

Além disso, o plano prevê investimentos privados para consolidar um ecossistema entre governo, empresas e universidades. “Temos uma população jovem, energia limpa e estabilidade fiscal, os pilares ideais para virar um hub tecnológico”, afirma Villate.

Durante viagem à Califórnia, Peña reuniu-se com Google e OpenAI para discutir investimentos. Portanto, as conversas ainda não resultaram em acordos, mas sinalizam que o país começa a entrar no radar das gigantes do setor.

Educação e inclusão digital

Enquanto o parque digital avança, iniciativas locais tentam formar novos talentos. A Girls Code, fundada em 2017 por Vanessa Cañete, já capacitou mais de mil mulheres e adolescentes em programação e robótica.

“Queremos criar uma geração de engenheiras e programadoras que possam competir globalmente”, diz Cañete. Ademais, além das oficinas, a organização oferece aulas de inglês técnico de até quatro anos para facilitar a integração com empresas estrangeiras.

Por fim, segundo a empresária, o país ainda enfrenta desafios como burocracia e barreiras contratuais internacionais, mas o potencial é imenso. “Se colocarmos a inovação no centro, o Paraguai pode se tornar uma potência tecnológica”, afirma Cibils.

Luiz Fernando

Licenciado em Letras e Graduando em Jornalismo pela UFOP; Atua como redator realizando a cobertura sobre política, economia, empresas e investimentos.

Licenciado em Letras e Graduando em Jornalismo pela UFOP; Atua como redator realizando a cobertura sobre política, economia, empresas e investimentos.