
- Sindicato aponta paralisações, frota sem abastecimento e mercadorias paradas.
- Empresa nega crise generalizada, mas admite necessidade de ajustes operacionais.
- Atendimento a aposentados aumenta pressão sobre estrutura fragilizada.
A Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos enfrenta uma das piores crises de sua história. Com dificuldades financeiras graves, paralisações operacionais e fornecedores sem pagamento, os serviços da estatal estão sendo duramente afetados, principalmente nos grandes centros urbanos. A denúncia foi feita pelo Sindicato dos Trabalhadores da empresa em São Paulo, o Sintect-SP, que classificou a situação como um “colapso financeiro e operacional”.
Além disso, há relatos de que motoristas terceirizados estão com serviços paralisados por falta de repasse às transportadoras. Isso tem provocado acúmulo de encomendas em centros logísticos e afetado diretamente a vida de consumidores e funcionários.
Encomendas paradas e frota sem combustível
De acordo com Douglas Melo, diretor do Sintect-SP, o cenário é crítico. Ele afirmou que diversas unidades operacionais estão com toneladas de mercadorias paradas, sem prazo para entrega. As paralisações atingem diretamente centros logísticos estratégicos como os de Jaguaré, Santo Amaro, Guarulhos e Cajamar, em São Paulo, além do complexo Benfica, no Rio de Janeiro.
“Não é apenas São Paulo que está com problemas. A situação é nacional”, alertou o sindicalista. Entre os problemas relatados, estão também a suspensão do abastecimento da frota de veículos próprios. Segundo o Sintect-SP, os Correios estariam inadimplentes com postos de combustíveis, impedindo a circulação de parte dos carros responsáveis pelas entregas.
Esse tipo de problema operacional compromete não só os prazos, mas também a imagem da empresa, que já vinha enfrentando dificuldades nos últimos anos para manter sua relevância diante do crescimento de empresas privadas no setor logístico.
Correios negam crise, mas confirmam “ajustes”
Apesar das denúncias, os Correios divulgaram nota em que afirmam que os serviços “seguem dentro da normalidade”. A empresa admite, porém, que realiza ajustes na malha logística, com foco em ações contingenciais e operações extras aos fins de semana.
Entre as iniciativas adotadas estão o reforço no monitoramento das entregas e a reestruturação da malha viária para ampliar a capacidade de distribuição. Segundo a estatal, há diálogo contínuo com parceiros logísticos para sanar pendências e evitar maiores impactos na prestação de serviços.
Ainda assim, as justificativas não têm convencido os trabalhadores. Representantes do Sintect-SP alegam que as medidas são paliativas e insuficientes para resolver o que consideram uma falência funcional da empresa. A crítica recai principalmente sobre a gestão financeira, acusada de desorganização e negligência com os contratos básicos de operação.
Pressão aumenta com novas funções da estatal
Em meio ao caos, os Correios assumiram uma nova responsabilidade nacional. Desde o fim de maio, as agências passaram a receber pedidos de restituição de descontos indevidos nos contracheques de aposentados e pensionistas do INSS. A tarefa, antes exclusiva do instituto, sobrecarrega ainda mais a estrutura da estatal.
Segundo balanço divulgado pela própria empresa, mais de 300 mil beneficiários foram atendidos até o dia 3 de junho. O número tende a crescer nas próximas semanas, o que coloca em dúvida a capacidade dos Correios de absorver a demanda adicional sem comprometer ainda mais os serviços já em dificuldade.
Desse modo, apesar da iniciativa ser vista como um esforço positivo de aproximação com a população, sindicalistas apontam que a nova atribuição veio no pior momento possível. Portanto, a falta de pessoal e de recursos básicos, como combustível e contratos logísticos em dia, fragiliza o atendimento nas agências e pode agravar o desgaste da estatal junto à sociedade.