As projeções para esse final de ano, na opinião da estrategista-chefe da MAG Investimentos, Patrícia Pereira, são cheias de incertezas. “O mercado está aguardando, o resultado das eleições”, disse, em evento interno da empresa sobre as expectativas para o último trimestre de 2022.
A comunicação trazida pelo Comitê de Política Monetária (Copom) neste mês de agosto deu ênfase à inflação no primeiro trimestre de 2024; ou seja, o horizonte relevante inclui o ano de 2023 e, em grau menor, o de 2024. O comunicado acabou sendo contraproducente ao objetivo de ancoragem das expectativas e, na análise de Patrícia, foi “bastante inusitado”.
Olhar para a inflação acumulada em doze meses no primeiro trimestre de 2024 foi a forma de o Copom avaliar o possível comportamento dos preços sem tantos efeitos das mudanças tributárias feitas recentemente nos combustíveis, energia e telecomunicações.
“Na minha opinião, essa opção é bastante confusa, o contrário do desejado para ancoragem do mercado e redução de volatilidade”, comentou.
Como resultado, as projeções do mercado para 2024, que já estavam acima da meta de 3,0%, elevaram-se ainda mais após a ata, para 3,41%.
Ao tratar dos próximos passos de política monetária, a sinalização de que o Banco Central vai avaliar a necessidade de ajuste residual pode ser entendida, na visão da estrategista-chefe da MAG, que o ciclo de cortes de juros terminou.
“A barra parece bastante elevada para um último ajuste, ainda que apenas marginal, de 25 bps em setembro”, informa Patrícia.
Eleições
Com o início das convenções partidárias e os inícios oficiais das campanhas com candidaturas homologadas, as eleições ainda terão um peso forte na incerteza envolvendo o contexto econômico do final de 2022 e início de 2023. Com o primeiro turno das eleições presidenciais marcado para dia 02 de outubro, e um eventual segundo turno no dia 30 do mesmo mês, apenas no início de novembro alguma resolução aparecerá no país — e aí já será tarde demais para que quaisquer resultados sejam perceptíveis ainda no ano de 2022. “Esse será o tema dominante dos próximos meses, certamente”, avalia Patrícia, que ainda acredita que a disputa será mais acirrada do que as pesquisas sinalizam.
“As pesquisas buscam reproduzir o perfil da sociedade, com base nas informações do último censo, que podem estar desatualizadas em relação ao contexto atual, dado que o último foi realizado apenas em 2010”, elabora.
A expectativa é de redução na inflação, propiciada pela redução de ICMS, queda nos preços dos combustíveis e desaceleração das commodities em geral, mas ainda muito acima das metas. Nas economias desenvolvidas, o pico da inflação também deve estar ficando para trás, ainda que o patamar permaneça elevado. “É um ambiente de muita incerteza para qualquer investidor e um cenário econômico muito difícil, não só no Brasil, mas em todo o mundo”, explica Patrícia. “A Europa subiu seus juros pela primeira vez em onze anos. Os Estados Unidos analisam a continuidade do forte ritmo atual (75 bps). Todos estão preocupados”, analisa a executiva. Assim, segundo a estrategista-chefe da MAG Investimentos, o mundo deverá crescer menos: “a inflação está tão alta que bancos centrais em todo o globo estão elevando seus juros, causando impacto direto na atividade econômica. É uma situação que não é vista há 40 anos, especialmente no exterior. E o rendimento do cidadão não vem na mesma proporção, não repõe a inflação, o que corrói seu poder de compra. E a inflação global só deve voltar aos patamares anteriores no próximo ano”, diz Patrícia.
A grande dúvida, para o mercado, estaria na definição da âncora fiscal do próximo governo.
“Hoje há um teto de gastos, mas o governo atual quebrou essa regra pelo menos em três ocasiões, já fora do período da pandemia. Se você tem uma regra que é flexibilizada a todo momento, ela não é mais crível. Com isso, a confiabilidade também cai”, diz Patrícia.
Além disso, outras ações que poderiam aumentar a credibilidade da economia brasileira — como a Reforma Administrativa e Tributária — ainda não saíram do papel.
Um dos únicos pontos positivos vem do mercado de trabalho, com números surpreendentes.
“Começou com os empregos informais, mas engloba empregos formais também. Todas as vagas perdidas na pandemia foram recuperadas, e mais — mas vale notar que isso ocorre com o salário de admissão dos novos entrantes sendo, em média, menor”, explica. “Por isso que talvez a gente não perceba essa melhora”.