
- Embraer propõe produção do cargueiro KC-390 nos EUA para evitar tarifa de 10%
- Projeto bilionário criaria 2 mil empregos e reforçaria presença da empresa no país
- Aviões da Embraer são líderes na aviação regional americana, com 75% do faturamento vindo dos EUA
A Embraer decidiu jogar pesado para proteger seus negócios nos Estados Unidos. Assim, diante das tarifas impostas pelo governo Donald Trump sobre produtos brasileiros, a fabricante propôs instalar uma linha de produção do cargueiro militar KC-390 em solo americano. Nesse sentido, a ideia é eliminar a alíquota de 10% que ainda incide sobre as exportações da empresa para os EUA.
Desse modo, o plano inclui um investimento estimado de US$ 500 milhões e a criação de cerca de 2 mil empregos diretos. Então, caso aprovado, o projeto ampliaria de forma significativa a presença da Embraer no país, onde já mantém duas fábricas e cinco centros de manutenção. Logo, a decisão sobre a proposta caberá à Força Aérea dos EUA, que atualmente utiliza os modelos Hércules, da americana Lockheed Martin.
Investimento estratégico e impacto político
A proposta de abrir uma nova unidade nos Estados Unidos surge como resposta direta à tarifa de 10% imposta por Trump em abril. Apesar de o KC-390 ter escapado da tarifa extra de 40%, válida a partir desta quarta-feira (6), a taxa anterior ainda encarece os custos da fabricante.
A estratégia da Embraer visa mostrar compromisso com a economia americana. Nos próximos cinco anos, a empresa planeja importar US$ 21 bilhões em motores, válvulas e componentes dos EUA. Já as exportações de aeronaves devem somar US$ 13 bilhões, gerando um superávit de US$ 8 bilhões para o lado americano.
Ao reforçar os vínculos industriais e comerciais com os EUA, a Embraer tenta neutralizar o discurso protecionista da Casa Branca. Atualmente, a companhia já gera mais de 2.500 empregos diretos no país, além de outros 10 mil indiretos ligados à sua cadeia de suprimentos.
Força na aviação regional dos EUA
No mercado civil, a Embraer ocupa um espaço que seus concorrentes simplesmente não conseguem preencher. Com os modelos E175, que transportam até 80 passageiros, a empresa domina a aviação regional dos Estados Unidos, segmento vital para a mobilidade aérea doméstica.
Mais de 80% dos aviões utilizados nessa categoria são da fabricante brasileira. Em aeroportos estratégicos como LaGuardia, em Nova York, e Ronald Reagan, em Washington, um terço dos voos regionais é feito por jatos da Embraer.
A posição da empresa se fortaleceu após a falência da canadense Bombardier. A Airbus assumiu parte do mercado com a compra da rival, mas seus aviões são considerados grandes demais para rotas regionais. Além disso, empresas da União Europeia, como a própria Airbus, estão isentas das tarifas americanas graças a acordos comerciais com os EUA.
Peso do mercado americano no balanço
Os Estados Unidos respondem por aproximadamente 75% do faturamento global da Embraer. Essa concentração de receitas torna o mercado americano estratégico e, ao mesmo tempo, vulnerável às mudanças políticas em Washington.
No último ano, a empresa vendeu 90 aeronaves para a United Airlines e, em 2025, já fechou contrato com a SkyWest para mais 60 aviões. Esse volume reforça a dependência das encomendas dos EUA para manter o ritmo de produção nas fábricas da empresa.
Com a proposta de nacionalizar parte da produção do KC-390, a Embraer tenta garantir espaço na concorrência pelo fornecimento de cargueiros à Força Aérea americana. Se for bem-sucedida, a medida pode blindar a companhia das tarifas, diversificar a produção militar e ampliar a geração de empregos fora do Brasil.