
A Petrobras (PETR4) anunciou um novo aumento no preço do querosene de aviação (QAV) neste início de agosto. O reajuste, aparentemente técnico, pode ser o estopim para um novo encarecimento das passagens aéreas em todo o país.
Com o combustível representando até 40% dos custos operacionais das companhias, o impacto tende a ser sentido rapidamente nas tarifas pagas pelos consumidores, principalmente em rotas com pouca concorrência.
Petrobras sobe combustível e pressiona o setor aéreo
A Petrobras (PETR4) reajustou em 4,7% o preço do QAV nesta quinta-feira, 1º de agosto. Esse aumento vem na esteira de um ajuste anterior de 2,9% em julho, o que mostra uma tendência preocupante para o setor. Com essa nova alta, o litro do combustível passa a custar, em média, R$ 3,57 nas bases de distribuição.
Apesar de silenciosa, a decisão da estatal tem potencial de causar um efeito dominó. Isso porque o querosene representa uma das maiores despesas das empresas aéreas, atrás apenas de leasing e manutenção, todos altamente dolarizados.
Além disso, como o combustível é produzido majoritariamente no Sudeste, o custo logístico para distribuição ao Norte, Nordeste e Centro-Oeste encarece ainda mais o processo, gerando distorções regionais.
A conta chega no bilhete: passagens aéreas devem subir já em agosto
Na prática, o consumidor é quem vai pagar a conta. Em mercados com pouca concorrência, como várias capitais do Norte e do Nordeste, a tendência é de aumento imediato nos preços das passagens. Especialistas lembram da famosa lógica do “foguete e pena”: o preço sobe rápido como foguete e só cai devagar como uma pena.
Esse fenômeno é comum no setor aéreo. Quando o combustível sobe, o reajuste nas tarifas ocorre quase automaticamente. Já em momentos de queda no preço do QAV, as companhias tendem a manter os bilhetes em alta, alegando compensações financeiras anteriores.
A alta do dólar também contribui para piorar a situação, já que tanto o combustível quanto os contratos de leasing são cotados em moeda estrangeira.
Inflação nas alturas: passagens puxam alta do IPCA
De acordo com o IPCA-15 de julho, as passagens aéreas subiram 19,21% em relação ao mês anterior, sendo uma das principais responsáveis pela inflação no período. Com os combustíveis em alta, o impacto foi sentido também no preço dos alimentos transportados por via aérea.
Analistas do mercado já alertam para a possibilidade de novas altas no IPCA em agosto e setembro, puxadas novamente pelo setor aéreo. A Petrobras, com sua política de reajuste periódico dos combustíveis, tem papel direto nesse cenário.
Se a inflação persistir, isso pode adiar uma possível queda nos juros em 2026 e afetar o consumo como um todo.
Companhias aéreas pressionadas e consumidores sem saída
Com o fim de medidas de ajuda da pandemia e uma dívida bilionária acumulada, as companhias aéreas têm pouca margem para absorver aumentos sem repassar aos consumidores. Gol, Latam e Azul, que dominam o mercado nacional, já operam com malhas reduzidas e aviões lotados.
Nesse cenário, a retomada dos investimentos em combustíveis sustentáveis, como o SAF, é lenta e ainda muito cara. Sem alívio imediato à vista, os brasileiros devem se preparar para um segundo semestre de tarifas elevadas, menos promoções e mais aperto no orçamento.
Especialistas defendem maior transparência da Petrobras e uma política de transição energética mais robusta, que reduza a dependência do QAV. Enquanto isso não acontece, voar no Brasil continuará sendo um privilégio cada vez mais caro.
Resumo final:
- A Petrobras reajustou o preço do querosene de aviação em 4,7% em agosto, após alta de 2,9% em julho
- O aumento deve impactar diretamente as passagens, que já subiram 19,21% no IPCA-15 de julho
- Companhias aéreas pressionadas devem repassar custos; cenário inflacionário se agrava com alta do dólar