
- ONG ligada ao PCC intermediou visita de Lula ao Moinho
- Ministro Silvio Almeida já havia acessado o local com liberação do tráfico
- Oposição quer investigação por suposto conluio com crime organizado
A visita do presidente Lula ao “Moinho”, uma conhecida ocupação no centro de São Paulo, voltou ao centro da polêmica após revelações envolvendo o Primeiro Comando da Capital (PCC). Segundo reportagem do Metrópoles, o acesso ao local só foi possível graças à atuação de uma ONG associada à facção criminosa, que teria “liberado” a entrada da comitiva presidencial e do então ministro dos Direitos Humanos, Silvio Almeida.
A organização social, chamada Craco Resiste, intermediou a visita com líderes comunitários que, por sua vez, estariam ligados ao PCC. O objetivo da presença de Lula era “reforçar o compromisso do governo com políticas sociais nas regiões mais vulneráveis”. No entanto, o evento agora gera debates sobre os limites do diálogo institucional com territórios sob controle do crime.
ONG e tráfico: uma relação controversa
A Craco Resiste surgiu como um movimento de resistência ao tratamento violento dado a usuários de drogas e moradores da Cracolândia. Com o tempo, transformou-se em uma ONG formal, mas segue operando em um ambiente onde o tráfico dita as regras. Fontes ouvidas pela reportagem afirmam que nenhum político entra no Moinho sem a autorização dos “gestores do território” — um código para membros do PCC.
Ainda segundo relatos, a organização já havia facilitado a entrada de outros nomes ligados ao governo, como o próprio ministro Silvio Almeida, que visitou a comunidade antes da chegada de Lula. A entrada foi precedida por articulações diretas com interlocutores ligados ao crime organizado, que teriam garantido a segurança da comitiva.
Ministro tentou evitar polêmica
Silvio Almeida nega qualquer envolvimento com criminosos. Disse que não dialoga com o tráfico e que a presença no Moinho foi uma ação voltada à defesa dos direitos humanos. Ainda assim, sua assessoria reconheceu que há necessidade de “mediação local” para entrada em comunidades como essa, onde o Estado é ausente e o poder paralelo comanda o cotidiano.
O governo tenta se distanciar da narrativa de que teria “negociado” com o PCC. A Secretaria de Comunicação reforçou que a visita teve caráter institucional e destacou que políticas públicas precisam chegar a todos os brasileiros — inclusive em territórios dominados por facções.
CPI do Crime Organizado
Parlamentares da oposição já articulam pedidos de investigação. Deputados bolsonaristas prometem acionar o Ministério Público e a CPI do Crime Organizado. Para eles, o caso escancara o nível de aparelhamento entre movimentos sociais e o crime — com o beneplácito do governo federal.
Além disso, há críticas quanto à escolha de interlocutores. A Craco Resiste, que já recebeu recursos públicos em gestões anteriores, é apontada como uma organização de fachada, usada tanto por ativistas quanto por traficantes para manter controle sobre a narrativa local.