
- Pix já é aceito em Paris, Lisboa, Miami, Buenos Aires e Ciudad del Este
- Brasileiros podem pagar com QR Code e ver a conversão automática em euro ou dólar
- Apesar do sucesso, sistema ainda depende de acordos privados fora do Brasil
O Pix, criado pelo Banco Central do Brasil em 2020, deixou de ser um fenômeno apenas nacional. Agora, ele também ganha espaço em destinos internacionais populares entre os brasileiros. Assim, seja comprando cosméticos em Paris ou eletrônicos em Ciudad del Este, o consumidor já pode usar o celular e fazer o pagamento diretamente em reais.
Além disso, a expansão internacional do sistema ocorre por meio de parcerias entre fintechs brasileiras e lojas no exterior. Desse modo, essas empresas intermediam as transações, fazem a conversão automática para a moeda local e garantem que o lojista receba o valor final, mesmo sem o cliente utilizar cartão ou dinheiro estrangeiro.
De Paris a Buenos Aires: onde o Pix já funciona
Em Paris, o sistema já é aceito em perfumarias como Fragrance de l’Opéra, Grey e na famosa farmácia CityPharma, em Saint-Germain. A operação é feita com apoio da fintech PagBrasil: o cliente brasileiro escaneia o QR Code, paga pelo aplicativo do banco e o valor chega à loja em euros, com taxa média de 3%.
O mesmo modelo opera em Lisboa, onde a Braza Bank atua como ponte com os lojistas locais. Ademais, a fintech converte o valor para euros com base em câmbio médio e repassa o montante ao estabelecimento, muitas vezes sem precisar de um credenciador europeu. Essa flexibilidade atraiu varejistas voltados ao público brasileiro.
Outros locais já operam com Pix internacional em menor escala: Miami (EUA), Buenos Aires (Argentina) e Ciudad del Este (Paraguai). Fintechs como VoucherPay, Eupago e Wipay também estão na linha de frente, ampliando os pontos de aceitação em destinos turísticos movimentados por brasileiros.
Infraestrutura 100% brasileira, mas com apetite global
Apesar do crescimento, o Pix ainda não tem regulamentação para uso oficial em transferências internacionais. A operação em outros países depende exclusivamente de soluções privadas, sem envolvimento direto de governos ou bancos centrais. Por isso, a adesão está limitada a locais com forte presença de turistas brasileiros.
Além disso, o projeto Nexus, liderado pelo Banco de Compensações Internacionais (BIS), pretende mudar isso. Ele busca conectar sistemas de pagamento instantâneo de diferentes países, permitindo que um brasileiro envie Pix para a Índia ou receba valores do Reino Unido, com clareza nas taxas e sem necessidade de bancos intermediários.
Portanto, outros países já operam sistemas semelhantes ao Pix: FedNow nos Estados Unidos, SEPA na União Europeia, Faster Payments no Reino Unido, UPI na Índia e o NPP na Austrália. Todos compartilham as características de instantaneidade, operação 24 horas e baixo custo.
Reação dos EUA: sistema brasileiro incomoda rivais
O avanço do Pix incomodou a maior potência econômica do planeta. Em julho, os Estados Unidos abriram uma investigação comercial contra o Brasil, alegando possíveis barreiras a serviços digitais estrangeiros. A medida foi tomada pelo USTR a pedido do presidente Donald Trump.
Embora o relatório americano não mencione o Pix de forma direta, o alvo é evidente. A Febraban reagiu rapidamente, afirmando que o sistema brasileiro é público, gratuito, acessível a qualquer instituição e não cria restrições comerciais. Segundo a federação, houve “informações incompletas” por parte do governo americano.
Especialistas acreditam que a investigação tem mais motivação geopolítica do que técnica. Afinal, o Pix vem ganhando mercado em um setor altamente dominado por empresas americanas, como Visa, Mastercard e PayPal. A penetração do sistema em destinos turísticos acende um alerta em gigantes do setor.
Pix já movimenta bilhões e não para de crescer
Atualmente, o Pix ultrapassa 168 milhões de usuários cadastrados. A cada mês, são mais de 6,5 bilhões de transações e cerca de R$ 2,5 trilhões movimentados. Os dados consolidam o sistema como o principal meio de pagamento do Brasil, superando TEDs, DOCs e até o uso de dinheiro vivo.
Sua expansão internacional, mesmo sem regulação formal, reforça o apelo da praticidade e da confiança no sistema. O consumidor brasileiro, acostumado com rapidez e gratuidade, leva esse hábito para fora do país e acaba abrindo novas frentes de aceitação junto a comerciantes.
Enquanto o Nexus não entra em vigor, fintechs continuarão liderando essa integração informal entre países. Por fim, a tendência é que o Pix se torne um modelo a ser replicado em outros mercados emergentes, criando um novo padrão global de transações instantâneas.