
- Mais de 60% dos pneus vendidos no Brasil são importados e devem ficar mais caros.
- Indústria nacional pressiona por tarifa de 35%, alegando concorrência desleal da Ásia.
- Importadores alertam para alta de preços, insegurança nas ruas e prejuízo ao consumidor.
Prepare o bolso: mais da metade dos pneus vendidos no Brasil deve ficar mais cara nos próximos meses. Isso porque o governo avalia aumentar a alíquota de importação dos produtos vindos principalmente da Ásia.
A decisão pode sair já nesta terça-feira (23), em reunião da Camex (Comitê-Executivo de Gestão), e envolve uma disputa entre a indústria nacional de pneus e os importadores.
O que está em jogo
O impasse começou no ano passado, quando a Associação Nacional da Indústria de Pneumáticos (ANIP) pediu que a tarifa subisse de 16% para 35%, por dois anos, para conter a concorrência asiática. O governo elevou o imposto apenas para 25% em outubro de 2024, mas esse prazo está acabando.
Agora, a indústria nacional pressiona por um novo ajuste, novamente para o teto de 35% permitido pela OMC. O argumento é simples: os pneus da China, Vietnã e Índia chegam ao Brasil com preços até 57% mais baixos do que os praticados no mercado internacional.
Se a mudança acontecer, mais de 60% dos pneus vendidos no país, todos importados, terão aumento direto no preço final.
O que diz a indústria nacional
A ANIP afirma que o Brasil se tornou um alvo preferencial das exportações asiáticas e que o dumping ameaça a sobrevivência das fábricas locais. Segundo a entidade, os preços praticados estão tão baixos que chegam a ficar abaixo do custo da matéria-prima.
Um levantamento da consultoria LCA mostra que, mesmo com a alíquota em 25%, pneus importados ainda entram no país por valores artificiais. O presidente da ANIP, Rodrigo Navarro, lembra que o México já subiu sua tarifa para 35% no mês passado e cobra que o Brasil siga o mesmo caminho.
O estudo calcula que o impacto da alta no IPCA seria mínimo: apenas 0,005 ponto percentual em 12 meses. Para a indústria, isso compensa pela geração de empregos e proteção à produção nacional.
O alerta dos importadores
Na outra ponta, a ABIDIP (Associação Brasileira dos Importadores e Distribuidores de Pneus) afirma que o aumento da tarifa representa protecionismo injustificável.
Segundo o grupo, quem mais perde é o consumidor comum, especialmente motoristas de aplicativo, taxistas e caminhoneiros, que podem ter de recorrer a pneus usados ou de procedência duvidosa. Então, isso aumentaria o risco de acidentes.
Portanto, o presidente da entidade, Ricardo Alípio da Costa, critica a narrativa de dumping e pede mais fiscalização, não mais impostos. “O impacto será direto no bolso, e o resultado será mais insegurança nas ruas”, alerta.
Vai pesar no bolso?
De acordo com cálculos da CNI (Confederação Nacional da Indústria), a tarifa de 35% pode encarecer em até 16,4% os pneus importados.
Ademais, o efeito no IPCA seria pequeno, algo entre 0,03 e 0,05 ponto percentual. O impacto no dia a dia do consumidor pode ser maior. A troca de pneus ficará mais cara, a procura por usados aumentará e toda a cadeia de manutenção automotiva sofrerá pressão.
Por fim, a CNI projeta ganhos econômicos com a medida: R$ 8,9 bilhões no PIB por ano, mais de 100 mil empregos e R$ 3,7 bilhões em salários.